O tamanho da torcida é documento no botequim, na praia entre caipirinhas, no escritório ou no churrasco em família. Quando sai uma pesquisa, o sujeito pode gabar-se de que seu clube tem mais fãs que o do vizinho, do primo de segundo grau, do cunhado ou do jornaleiro. O fato alimenta autoestima, dado que quantidade, volume, é um fetiche da modernidade. Mas a massa, a nação, significa o que além do status? Esse patrimônio não faz sentido por si só, precisa ser explorado. O apaixonado por um time – não custa lembrar que entre os milhões que se dizem torcedores de dada agremiação há parcela que são simpatizantes – precisa ser consumidor dele para que os ganhos sejam práticos. Se o sujeito contribui para a estatística de um clube, mas não para seus cofres, é um desperdício. Essa, ao menos, é a lógica óbvia do futebol imerso no mundo capitalista.
Parece, então, que os clubes brasileiros acordaram para o tal potencial inexplorado. Algo que gigantes europeus já fazem há um bocado de tempo enfim começa a entrar no receituário por aqui. Dois são os exemplos mais fortes: os programas de sócio-torcedor e os novos estádios. São duas árvores frondosas cuja raiz são os seguidores. As ações de fidelização, que rendem um agitado ranking de adesão – os palmeirenses comemoraram no fim de semana o posto de vice-líderes no quesito, só atrás do Inter –, injetam milhões nos cofres não só com a possibilidade de o aderente ter abatimento no preço dos ingressos como receber mimos que acarinham sua condição de apaixonado.
De certa forma, o torcedor passa a ser responsável direto por boa parte do sustento do clube e mantenedor de sua grandeza. O dinheiro dos direitos de transmissão na TV e patrocínio de camisa são obtidos, claro, em função do prestígio de um clube, de sua visibilidade, o que é diretamente proporcional a seu número de fãs. Porém, os novos passos têm vínculo mais direto, pois os recursos saem do bolso do fã para a conta do clube. Tanto os programas de sócio-torcedor quanto estádios com melhor estrutura propõem a relação direta com o público.
Essa realidade abraçou todos os grandes clubes do país, ainda que os modelos sejam adaptados. Os cariocas ficam à mercê do consórcio do Maracanã e não veem o mesmo horizonte de receita no tópico de estádio em comparação com o Trio de Ferro paulista, por exemplo. O Flamengo, dado seu explosivo potencial, consegue mandar jogos em outras localidades, como Manaus, e faturar com o fato de ter torcida expressiva em qualquer canto do mapa nacional. O Cruzeiro, que também tem que se dobrar às exigências dos controladores do Mineirão, conseguiu rechear seus bolsos com sócio-torcedor, programa apontado como principal responsável pelo sustento do time que conquistou o bicampeonato brasileiro.
O futebol local caminha para um inegável novo estágio, com o torcedor tendo papel ativo nas receitas. Diante disso não custa sonhar com o dia em que os clubes passem a não perder jogadores para países da periferia da bola.
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