Eduardo é um homem sério, como se dizia antigamente. Na verdade, apesar de viver cercado - e consumido - por toda sorte de aparatos da mais moderna tecnologia, ele é um homem de antigamente. O carrão importado e o loft modernoso no bairro mais badalado da cidade são apenas despistes. No fundo, o sujeito hiperconectado que deseja feliz Natal para os amigos através de um post no Facebook e para a mãe através de algo que ele considera muito mais próximo e carinhoso, um SMS, não passa de um solitário antiquado. Entre suas crenças mais arraigadas está a de que ganhar dinheiro não combina com diversão. Eduardo ganhou muito dinheiro em seus 50 anos de vida. E se divertiu quase nada.
Eduardo não gosta de futebol. Já gostou. Muito, garante sua mãe. Ele não lembra mais. Deve ter sido antes de começar a ganhar dinheiro e, portanto, antes de começar a viver de verdade. Quando perguntam pelo seu time de coração, até fala: o Corinthians. Mas naquela histórica manhã de domingo em que o bando de loucos conquistou o mundo, ele estava num avião - classe executiva, claro - voando para uma reunião em Nova York. Pelo Twitter, ficou sabendo da façanha. Não esboçou reação. A reunião do dia seguinte era muito importante para perder tempo com bobagens. "Bando de loucos", pensou. "É isso mesmo que esses fanáticos são. Como será que a bolsa abrirá amanhã?" A seriedade de Eduardo, na verdade, atende pelo nome de tristeza.
E então chegou o Natal. Aquele dia chato, que atrapalha a reta final do ano, com tantas metas que ainda precisam ser batidas. Outra distração inútil, como o futebol. Normalmente, Eduardo passa a data longe de casa, cada ano com uma namorada diferente, em alguma estação de esqui metida a besta ou em um exótico resort de mergulho.
Este ano, num intervalo entre uma namorada e outra, faltou vontade de viajar. Como a mãe mora em outra cidade, o pai faleceu há muitos anos e os amigos são sofisticados demais para celebrarem a ocasião em solo nacional, ele ficou sozinho no loft. Pouco antes da meia-noite, foi até a adega, escolheu o vinho mais caro e estava apreciando a bela vista da varanda quando notou algo sobre a mesa de centro. Era uma encomenda do correio, que a empregada devia ter largado ali.
Junto com a encomenda, um bilhete de sua mãe, contando que aquele era um presente que seu pai havia deixado com ela pouco antes de morrer, com instruções expressas de que fosse entregue ao filho somente no Natal em que estivesse com 50 anos. Um tanto assustado, Eduardo abriu o pacote. Dentro, encontrou seu time de botão dos tempos de menino, que julgava perdido na poeira dos tempos. Um lindo time de galalite, com os nomes dos jogadores escritos com letra de criança e colados com um durex amarelado. Ao ver aquilo, o executivo sério enxugou uma lágrima, voltou no tempo e pôs-se a jogar com os antigos botões na mesa de vidro da sala. Zé Maria, Ruço, Rivellino, Aladim, estavam todos lá, inclusive o seu favorito: Adãozinho.
Na manhã do dia seguinte, Eduardo voltou a ser um homem sério. Mas começou a ler o jornal pelo caderno de esportes.
Eduardo não gosta de futebol. Já gostou. Muito, garante sua mãe. Ele não lembra mais. Deve ter sido antes de começar a ganhar dinheiro e, portanto, antes de começar a viver de verdade. Quando perguntam pelo seu time de coração, até fala: o Corinthians. Mas naquela histórica manhã de domingo em que o bando de loucos conquistou o mundo, ele estava num avião - classe executiva, claro - voando para uma reunião em Nova York. Pelo Twitter, ficou sabendo da façanha. Não esboçou reação. A reunião do dia seguinte era muito importante para perder tempo com bobagens. "Bando de loucos", pensou. "É isso mesmo que esses fanáticos são. Como será que a bolsa abrirá amanhã?" A seriedade de Eduardo, na verdade, atende pelo nome de tristeza.
E então chegou o Natal. Aquele dia chato, que atrapalha a reta final do ano, com tantas metas que ainda precisam ser batidas. Outra distração inútil, como o futebol. Normalmente, Eduardo passa a data longe de casa, cada ano com uma namorada diferente, em alguma estação de esqui metida a besta ou em um exótico resort de mergulho.
Este ano, num intervalo entre uma namorada e outra, faltou vontade de viajar. Como a mãe mora em outra cidade, o pai faleceu há muitos anos e os amigos são sofisticados demais para celebrarem a ocasião em solo nacional, ele ficou sozinho no loft. Pouco antes da meia-noite, foi até a adega, escolheu o vinho mais caro e estava apreciando a bela vista da varanda quando notou algo sobre a mesa de centro. Era uma encomenda do correio, que a empregada devia ter largado ali.
Junto com a encomenda, um bilhete de sua mãe, contando que aquele era um presente que seu pai havia deixado com ela pouco antes de morrer, com instruções expressas de que fosse entregue ao filho somente no Natal em que estivesse com 50 anos. Um tanto assustado, Eduardo abriu o pacote. Dentro, encontrou seu time de botão dos tempos de menino, que julgava perdido na poeira dos tempos. Um lindo time de galalite, com os nomes dos jogadores escritos com letra de criança e colados com um durex amarelado. Ao ver aquilo, o executivo sério enxugou uma lágrima, voltou no tempo e pôs-se a jogar com os antigos botões na mesa de vidro da sala. Zé Maria, Ruço, Rivellino, Aladim, estavam todos lá, inclusive o seu favorito: Adãozinho.
Na manhã do dia seguinte, Eduardo voltou a ser um homem sério. Mas começou a ler o jornal pelo caderno de esportes.
(EM 22/05/2013)