OS ENCANTOS DA PROPAGANDA COMERCIAL

O comercial de refrigerantes apresenta as semelhanças entre a vida e um jogo de futebol. O nascimento e a subida ao campo, o amor e o calor da recepção. Os primeiros anos e os primeiros minutos, fases sonoras e de pura eletricidade. A ilusão, o otimismo, a sensação de invencibilidade que nos domina durante a adolescência e nos movimentos iniciais de nosso time em campo.

O amadurecimento traz a identificação da oportunidade, a noção de que há momentos que surgem apenas uma vez, como uma chance de gol. A segunda metade de nossa existência, como o segundo tempo de uma partida, é a hora das mudanças, da experiência e das realizações. Já perto do fim, é quando olhamos para o relógio. Quando nos faltam pernas, mas não coração. “Porque na vida”, diz o texto, “como em uma partida da Argentina, se pode ganhar ou perder. Mas o mais importante é deixar tudo em campo”.
O comercial de cerveja faz um aviso. “Esperamos por muito tempo este encontro”, diz a narração, “então é bom que saibam com quem vão se encontrar”. E passa a apresentar os jogadores que virão disputar a Copa. O menino que tomou injeções para crescer e jogar o Mundial, o centroavante que nasceu na França mas escolheu a Argentina, o meia que está diante da última chance, o atacante que todos conhecem e temem. O texto menciona “um país que não dorme por este sonho”, “o povo que inventou algo melhor do que o futebol: o amor pelo futebol”. E encerra: “vão se encontrar com tudo isso”.
O comercial de refrigerantes nos faz olhar para dentro e nos reconecta aos mais primordiais sentimentos. O comercial de cerveja consegue o feito de aproximar seres aparentemente inatingíveis de pessoas comuns, o que nada mais é do que a razão deste jogo existir. Enquanto um nos arrebata com imagens emocionantes e nos transporta para a tela, o outro nos arrepia e nos relembra do que é torcer. As campanhas argentinas, a cada quatro anos, vencem a Copa do Mundo da publicidade por goleada.
É um conteúdo que inspira. Algo bem distante das musiquinhas que não comovem, do humor que não faz rir, das mulheres com pouca roupa ou do apelo aos guerreiros. Caminhos que povoam nossas telas. Sim, há conotação patriótica exagerada tanto lá como aqui, mas não é disso que estamos falando. O ponto é o uso das imagens e das palavras para estabelecer uma conexão. O ponto é o conceito que nos põe em contato com as razões pelas quais gostamos de futebol.
Há uma razão para ser assim e esse é o aspecto mais preocupante. As mundialmente famosas agências brasileiras estão repletas de profissionais de extremo talento, o que elimina um problema de criatividade. As marcas que se associam à Seleção encomendam peças a peso de ouro, portanto também não é uma questão de orçamento. E como tudo está baseado em pesquisa, a conclusão é que temos o que queremos. Ou o que merecemos.

Deveríamos ser melhores, especialmente em um ano de Copa em casa, em que a oportunidade de falar de futebol está 24 horas por dia no ar.

O RESUMO DA LIGA

O Atlético de Madrid não foi o maior derrotado neste sábado em Lisboa.
Não ter conquistado a Liga dos Campeões da Uefa, por mais doído, é algo que não pode ser considerado um fracasso na temporada fantástica que o clube fez.
Em nome da leveza, os grandes derrotados nesta decisão foram os jornalistas cujos textos estavam prontos no momento do gol de Sergio Ramos, aos 48 minutos do segundo tempo.
O branco que brilhava nas telas de seus computadores já era, ali, o claro retrato da noite em que o Real Madrid (4x1: Godín, Ramos, Bale, Marcelo e Ronaldo) se tornou campeão europeu pela décima vez.
O empate nos acréscimos fez mais do que igualar o marcador e determinar outra meia hora de futebol. Estabeleceu a justiça que o jogo nem sempre respeita, inverteu o estado de ânimo dos times em campo e de seus torcedores, mostrou ao Madrid o caminho que esteve fechado durante quase toda a partida.
Pois àquela altura, o time de Ancelotti estava aberto, disposto a correr todos os riscos, lidando com as próprias dificuldades de ser produtivo no ataque posicionado.
O gol não saiu em uma criativa associação entre jogadores ofensivos. Nem foi produto do brilho individual que caracteriza o elenco do time branco. Foi em uma cobrança de escanteio, com o cabeceio de um defensor, como tantas e tantas vezes o Atlético de Madrid comemorou neste ano.
Desta vez, Simeone e seus seguidores experimentaram o lado que lamenta.
Foi como se o 1 x 1 libertasse o Madrid dos efeitos da perseguição a um troféu que o iludia há muito tempo. “La décima”, a taça que parecia proibida depois que Godín cabeceou a bola por cima de um errático Casillas e abriu o placar na Luz, ressurgiu no horizonte quando o tempo se esvaía.
Enquanto o Real Madrid dobrou de tamanho para jogar a prorrogação, o Atlético murchou. O hábito de minimizar problemas e encontrar um meio de tirá-los do caminho, perfil dos recém-coroados campeões da Espanha, teria de encontrar uma situação insolúvel. Ela foi finalmente imposta pela jogada de Dí Maria pela esquerda, concluída pelo toque de cabeça de Bale.
Mais dois gols seriam celebrados pela parte branca do estádio. Um de Marcelo e outro de Ronaldo, de pênalti. Gols que serão lembrados e comentados, mas que devem suas existências à bola que Ramos enviou à rede lateral de Courtois.
Na lateral, Ancelotti só abriu o sorriso dos campeões após o gol que levou Marcelo às lágrimas dos injustiçados. O italiano abraçou Zidane para saborear mais um título europeu em sua conta.
Ancelotti herdou um time atormentado e o converteu em um vencedor. Ele faz jus ao aplauso por conduzir o Madrid ao dia em que a espera terminou. Talvez seja o maior título de uma carreira condecorada, de um técnico que trabalha em silêncio para entregar vitórias sonoras.
A décima conquista europeia do Real Madrid está nas mãos de quem a merece.

1966: A COPA DO MUNDO DE EUSÉBIO

Em 1966, todos os olhos estavam voltados para o Brasil. A Copa do Mundo da Inglaterra poderia ser o palco para o tricampeonato mundial da seleção brasileira, triunfo que faria com que a Taça Jules Rimet fosse entrega de forma definitiva para o escrete canarinho.
Porém, em nosso caminho havia uma forte seleção, que contava com o melhor jogador europeu da época: Portugal, comandada pelo moçambicano Eusébio – Bola de Ouro de 1965 -, estreava na competição e contava com o talento do craque africano, radicado em terras lusas, para ir longe no Mundial. O camisa 13 de Portugal seria o algoz do Brasil no certame e aquele Mundial seria a consagração definitiva do Pantera Negra, um dos maiores craques da história, morto neste domingo, aos 71 anos de idade, vítima de uma parada cardiorrespiratória.
Se os dois gols marcados contra a seleção brasileira (já havia feito um contra a Bulgária) eliminaram os então bicampeões do mundo da Copa, a partida que ficaria para sempre marcada por sua grande atuação seria a seguinte, contra a zebra Coreia do Norte (que havia surpreendido a Itália na fase anterior, eliminando a Azurra de forma precoce na competição), nas quartas de final.
Após ver os asiáticos abrirem 3 x 0, com apenas 25 minutos de jogo, Eusébio comandou uma das viradas mais impressionantes da história das Copas: fez quatro gols, demonstrando uma incrível tranquilidade, comandando a equipe lusa na vitória por 5 x 3.
O Pantera Negra faria ainda outros dois gols no Mundial, um na derrota para a Inglaterra, nas semifinais, que eliminou sua seleção da competição (na partida que seria conhecida como “Jogo das Lágrimas” – derrotado, o craque deixou o gramado com um pranto copioso), e outro na disputa de terceiro lugar, contra a União Soviética. Com nove gols, Eusébio foi o artilheiro da competição, marcando seu nome no livro de ouro dos Mundiais.

RACISMO NÃO É PIADA! RACISMO É BURRICE!


Acredito, de verdade, que o humor muda o mundo. O humor e suas variantes, a ironia, o sarcasmo, o deboche. Para cada situação, uma tirada bem humorada pode ser a mais adequada. A boa piada lubrifica as relações sociais, desarma o agressor, é capaz de milagres.
É perfeitamente compreensível a atitude de Daniel Alves que recolheu uma banana arremessada no gramado para comê-la em seguida. Para quem é o agredido, a babaquice do racismo deve cansar. E Daniel inovou no jogo do Barcelona contra o Villareal ao debochar do cretino que atirou a banana em campo. Neymar deu continuidade ao sarcasmo postando uma foto com o filho David. Os dois com bananas na mão dizendo “somos todos macacos”. Divertido, inteligente e político. Tanto Daniel como Neymar se posicionaram com coragem no caso.
Mas, em algumas situações, talvez nem o humor salve. As respostas de Daniel e Neymar repercutiram, é verdade, só que a impressão é que todo mundo achou engraçadinho e isso vai dar em nada. Cadê a punição? Ah, não acharam o idiota na arquibancada, e fica por isso mesmo? O Barcelona, dirigido por catalães branquinhos da silva, já tratou em um comunicado de tirar a responsabilidade do Villareal. Federação Espanhola e Uefa devem bolar alguma ação de repúdio, só que punição, que é bom, nada.
O racismo não tem graça. Daniel Alves foi criativo e político. Mas talvez essa não seja a melhor maneira de mudar as coisas. Sair de campo, parar o jogo, mostrar que isso é sério, de repente, funcionaria melhor. O racismo não é de hoje, e não é um fato isolado. Estamos percebendo que bananas são os dirigentes que são bons de marketing e péssimos na hora de estabelecer punições mais duras.

QUEM ODEIA QUEM NO FUTEBOL

O futebol não vive sem o ódio. Não o ódio que gera violência, mas o ódio, digamos, racional. Lembre de três caras que você odeia no futebol? E clubes? Bom, para não ficar em cima do muro, vou dizer que odeio clube rico, metido a besta. Não gosto. Ponto.
Muita gente dá um risinho de prazer quando vê um rival cair de divisão ou um ídolo adversário ser estilhaçado por uma crise. Tem uma vertente, que é a dos que amam colecionar vexames rivais.
Mas pouca gente investe no assunto aqui no Brasil. Falar mal de outro time é assunto proibido. São poucas as incursões. Em 2010, ano do centenário corintiano, houve uma tentativa de zombar do alvinegro, sem tanta repercussão.
Lá fora, porém, a coisa não funciona dessa maneira. Pegue a Argentina. O Olé, o maior diário esportivo do país, lançou na década passada uma coleção de deslizes dos dois maiores clubes do país, Boca e River. Na Espanha, o torcedor barcelonista se esbaldou com “Barcelona y el Franquismo”, obra que expõe a proteção do regime do general Franco ao Real Madrid.
Nada, porém, supera “Rebels for the Cause”. O autor, Jon Spurling, torcedor do Arsenal, não tem medo de colocar o dedo nas feridas no clube. Acha que os Gunners só tem esse tamanho porque é um dos clubes mais odiados da Inglaterra. E mais odiado por uma série de fatores.
Vamos a eles. Os jogadores da equipe original, o Woolwich Arsenal, atuam mal. E eram maus perdedores – partiam para a porrada mesmo. O clube começou no sul de Londres e depois migrou para o norte, dividindo as atenções da região com os torcedores do Tottenham. O futebol apresentado entre os anos 60 e 80 estava entre os mais feios do mundo – é a época do chamado “Boring Arsenal”. Tem até uma piada sobre esse time no livro e no filme “Fever Pitch”. O pai leva o garoto para assistir a um jogo de futebol. O Arsenal marca primeiro. Aos 35min do segundo eles saem correndo do estádio. “Mas ainda tem dez minutos de jogo!”, queixa-se o menino. “Você ainda não entendeu o Arsenal”, diz o pai.
O futebol é muito mais divertido quando as verdades não são absolutas. É válido questionar, é válido não gostar. É válido também dar um risinho quando as coisas vão mal do outro lado. Ah, em tempo: o livro de Jon Spurling foi rejeitado pelos dirigentes do Arsenal.

FUTEBOL E TRAIÇÃO

Quando, em 2002, o Wimbledon renegou seu passado para virar MK Dons, ninguém imaginaria que dez anos depois ele o reencontraria. No domingo, 2 de dezembro, o time criado pelos fãs abandonados enfrenta pela primeira vez o clube que se deslocou 90 km rumo ao norte para ter um estádio em que pudesse mandar seus jogos.

A história renderia um filme. O Wimbledon passou 89 anos nas ligas amadoras inglesas. Conseguiu o direito de disputar seu primeiro campeonato profissional em 1977. Nove anos depois estava na primeira divisão inglesa. Mas foram dois acontecimentos ligados à Copa da Inglaterra que mudaram a história do pequeno clube de bairro da zona sul de Londres.
A primeira delas é a lendária geração “Crazy Gang”, um time de brutamontes que conquistou em 1988 a FA Cup diante do Liverpool, o papão de títulos da época. Foi a segunda equipe na história a conquistar a versão amadora e também a profissional. 
Há uma penca de livros sobre essa era. O principal deles é The Crazy Gang: The Inside Story of Vinnie, Harry, Fash and Wimbledon FC, de Matt Allen. Mas vou me ater ao ultimo, lançado neste semestre na Inglaterra: Underdog, de Tim Quelch.
Quelch estabelece um definitivo ponto de combustão futebol/pop desde a década de 1950. O livro – não apenas sobre o Wimbledon, mas sobre todos os vira-latas que fizeram história no futebol inglês – classifica seus capítulos por músicas da época.
A do Wimbledon se encaixa em Rise, canção do PIL de 1986, das linhas “eu posso estar certo, eu posso estar errado”. Nada melhor para definir aquele time. Eles eram temidos por jogarem feio. Tinham no elenco um mau caráter, Vinnie Jones. Seu estádio era o acanhado Plough Lane, para 7000 pessoas. Podia estar tudo errado. Podia estar tudo certo. Quem define isso?
Foi na campanha da FA Cup de 1988 que Vinnie protagonizou a inesquecível cena em que aperta as partes baixas de um jovem Paul Gascoigne, então no Newcastle. Vinnie, que depois viraria um ator requisitado (esteve em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Penalidade Máxima), foi o grande personagem. No jogo decisivo contra o Liverpool, não poupou cuspes e disse: “Nada dessa história de cumprimentar. Vamos passar direto”. O time fez um pacto: nada de se barbear ou de tomar banho 24 horas antes da final. O Wimbledon venceu por 1 x 0.
Um ano depois, o mesmo Liverpool enfrentou o Nottingham Forest em Sheffield pela semifinal da FA Cup. Uma confusão nas arquibancadas fez com que 95 pessoas morressem esmagadas. Em 1990, Lorde Taylor de Gosforth elaborou o relatório que ordenou que todos os estádios das duas principais divisões inglesas tivessem espaços apenas para torcedores sentados.
Foi o começo do fim do Wimbledon. Era impossível adaptar o pequeno Plough Lane à nova regra. Assim, o clube passou a mandar seus jogos no estádio do Crystal Palace, o Selhurst Park, também no sul de Londres. Foi lá que registrou o pior público da história da liga inglesa: 3039 pagantes para assistir a um Wimbledon x Everton, já pela Premier League em 1993.
A proposta para mudar de cidade foi aceita em 2002 pelos proprietários do clube. Milton Keynes tinha um bom estádio, mas não tinha time. Os torcedores protestaram. Em vão. Como vingança, fundaram o próprio clube, o AFC Wimbledon. A federação inglesa aceitou a mudança de cidade em 2004, desde que um novo clube fosse criado esquecendo o passado.
Desde então, o MK Dons é chamado de “franquia” pelos admiradores do velho Wimbledon. O clube criado pelos torcedores ascendeu meteoricamente para a Football League. Chegou na temporada 2010/11 à quarta divisão, a primeira etapa profissional do futebol inglês. Está a apenas um degrau do clube que renegou a sua história em troca de um estádio.

FUTEBOL E SUAS MUDANÇAS

DIALETOS
O debate sobre estilos jamais terá fim porque o futebol é como um idioma e seus vários dialetos. A escolha de uma forma de se comunicar depende de capacitação e de visão de mundo. O objetivo final é o mesmo, a diferença está no caminho para alcançá-lo.
José Mourinho e o Chelsea aplicaram a “estratégia do morcego” no jogo contra o Atlético de Madrid: todos pendurados no travessão. Diante do time inglês – beneficiário de um dos mais generosos orçamentos do futebol – não havia um adversário devastador, mas um Atlético que traduz o que é ser competitivo nos dias de hoje.
Anular-se para fazer o mesmo com o oponente é o expediente de equipes estéreis, que só sabem lutar e rezar. O Chelsea é mais do que isso, independentemente das convicções de seu treinador. O direito a escolhas vive na companhia da exposição a críticas, como ocorre com o lutador que dança pelo ringue para fugir do alcance do rival. Alguns o qualificam como inteligente, outros o chamam de medroso.
No dia seguinte, Real Madrid e Bayern fizeram, aí sim, um duelo de propostas baseadas em suas respectivas qualidades. É um equívoco relacionar o jogo de espera-e-saída do time espanhol com a conduta do Chelsea. A equipe de Ancelotti enfrentou um adversário com quem é inútil discutir a posse, e investiu em seu caráter de especialista na transição. O Real Madrid tinha um plano, o Chelsea fingiu que tinha.
Curioso perceber que os times mais diferentes das semifinais da Liga dos Campeões pecaram no mesmo aspecto. Atlético e Bayern não souberam gerar perigo por intermédio da manutenção da bola, o que é muito mais grave para os alemães, expoentes do jogo de posse.
O futebol foi inventado para ser jogado. Há distintas maneiras de fazê-lo, todas dentro das regras. Também há como se negar a jogar e se esconder sob um argumento pragmático no qual só crê quem quer. Se o resultado é tudo o que você pretende, o que restará se ele não vier?

DOCUMENTO
Seria ótimo se pudéssemos debater os estilos de futebol praticados no Brasil. Melhor ainda se a conversa se baseasse em ideias de jogo que fossem identidades de clubes, mantidas por filosofia. Mas o resultado reina absoluto e as derrotas encerram trabalhos, enquanto poucos times se preocupam em ter um perfil próprio. Menos ainda se destacam por isso.

PERMANÊNCIA
No período do tricampeonato brasileiro, o São Paulo tinha um RG sob Muricy Ramalho. O mesmo se pode dizer sobre o Corinthians nos anos Tite. Dois casos em que se nota a relação entre os títulos e a permanência da comissão técnica por mais tempo do que a média no país. O Cruzeiro aparece como candidato a seguir esse caminho com Marcelo Oliveira.

FUTEBOL DE BOTÃO (POR SÉRGIO JR)

Apesar de fazer muito sucesso nos anos 80, o futebol de botão foi inventando no começo da década de 30 pelo brasileiro Geraldo Cardoso Décourt que foi um incansável divulgador e organizador de eventos de futebol de mesa, o que propiciou o seu desenvolvimento, assim como sua popularização. Futebol de mesa, o antigo futebol de botão fez a alegria da molecada, sendo amado e praticado com sua diversidade de regras e materiais. O jogo é praticado com botões apropriados que representam os jogadores e que são movidos com o auxilio de uma paleta, é praticado como um passatempo mas foi oficialmente reconhecido como esporte em 1988.
Mas o futebol, esporte mais popular do mundo, é quem foi o grande inspirador para a criação do futebol de mesa. Botões de qualquer tipo de roupa, casacos e camisas, foram as primeiras peças utilizadas para se jogar, por isso o nome de futebol de botão. Botões maiores se transformavam nos “zagueiros” e menores viravam “atacantes”, fazendo uma analogia com o futebol. Mais tarde, começaram a ser fabricados em plástico e acrílico, e até um acrílico mais duro que recebia a marca de Crystal, pois era de um acrílico mais forte e resistia bem mais aos pisões e cotoveladas sem querer que os jogadores menos cautelosos faziam.
Aos poucos todos queriam fazer coleções, os mais difíceis de conseguir, sempre vinham com uma ajuda da Placar, revista de esportes da época, que trazia em cada edição escudos para montar os jogos de botão, que eram vendidos sem escudo, com times do que seria a Série B do campeonato brasileiro hoje em dia, ou de times do interior paulista como Ferroviária, São José, etc. Além de ter um bom jogo de botão, era necessário ter o 'estrelão' direto no chão ou mesmo a mesa da Coluna (fabricante de brinquedos da época), que começou a ser fabricada no final dos anos 70 e era item caríssimo no começo dos anos 80. Mas o que fazia a alegria mesmo eram as travinhas amadoras, com times de plástico, jogados na maioria das vezes no próprio chão. Já os campeonatinhos dos amigos da rua eram jogados com estrelão às vezes com a bolinha redonda, a chamada, 'profissional' (quando não tinha, serviam as pecinhas do War mesmo).
Jogava-se inicialmente nas calçadas que passaram a ser os campos, riscava-se com giz o desenho do campo, porém não deslizavam muito bem e posteriormente passou a se jogar em pisos de cerâmica ou mármore até chegar às mesas de jantar, que eram grandes e não precisava se jogar agachado no chão. Após o reconhecimento como esporte, as modalidades passaram por um crescimento estrutural e conceitual sem precedentes. As federações estaduais se organizou e ganhou "status" profissional e atualmente, existe uma interligação estrutural entre os eventos promovidos pelas federações e as confederações.
Hoje, o Futebol de Mesa (também chamado de futmesa), encontra campeonatos estaduais individuais e por equipes (os grandes clubes de futebol também têm equipes participando, como Corinthians, Nacional, Palmeiras, Rio Branco e Santos no estado de São Paulo e América-RJ, Bangu, Flamengo, Fluminense, Olaria e Vasco no Rio de Janeiro), além das recentes Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro de clubes.
Não é difícil entender por que o jogo apaixona os mais velhos e os mais novos, aproxima pai e filho, traz os sonhos à tona e promove duelos inesquecíveis. O interessante é que, como o futebol era muito popular nos anos 80, não podiam faltar nas coleções, times que, embora hoje estejam um pouco esquecidos, disputavam as categorias principais na época, como Ponte Preta, América-RJ, Bangu, Santa Cruz, não havia um lançamento de jogos de botão que não contasse com esses times, além de Ceará e Guarani (campeão brasileiro em 78 e vice-campeão em 86) que recentemente voltaram à elite do futebol brasileiro e disputavam com força os campeonatos de futebol de botão na casa dos avós nos anos 80. Bons tempos...

ERRO FINAL - "APITO AMIGO"

Romualdo Arppi Filho, segundo árbitro brasileiro a apitar em uma decisão de Copa do Mundo, tinha uma maneira particular de dirigir jogos quando se aproximavam do final. Especialmente os que estavam empatados. “Em jogo zero a zero, comigo, a partir dos 30 minutos do segundo tempo, só valia golaço”, costuma dizer. O que significa que, para mudar o placar àquela altura, um jogador teria de fazer uma pintura de gol, pois o jogo seria conduzido pela arbitragem de forma a não correr risco. 
Risco de quê? De um gol irregular, decisivo, no fim. De ser responsabilizado pelo resultado. Árbitros têm pavor desse peso, incômodo que perdura por dias e prejudica carreiras. “É para evitar esse tipo de coisa que árbitros oram, acendem velas, ajoelham-se no vestiário”, conta um ex-árbitro brasileiro que tratava os minutos finais de suas atuações como um piloto de Fórmula 1 na última volta de uma corrida.

Máximo cuidado, nada pode dar errado. 
Para ele, não há erro mais grave do que o cometido pelo trio de arbitragem na decisão do Campeonato Carioca. “Não tem explicação ou defesa, e o jogo não tem salvação”, diz. Nem o jogo e nem o campeonato, decidido por um gol em impedimento, nos acréscimos do segundo 
tempo - fim da história.

A FIFA avalia arbitragens com notas de zero a dez. Determina que, se houver interferência no placar, o árbitro – ou assistente – não pode receber nota superior a sete. O mesmo critério é adotado pela Conmebol e pela CBF. É por isso que há árbitros que “gostam” de marcar pênaltis para o time que está vencendo. O jogo se resolve e ninguém reclama. 

Também é por isso que, em partidas que se encaminham para decisões por pênaltis, árbitros apressados soam o apito final antes que os acréscimos se encerrem. Aconteceu no mesmo domingo, no Pacaembu, em Santos x Ituano. “Medida de segurança”, explica o ex-árbitro. “E se sai um gol de mão?”.

HÁ ERRADOS 50 ANOS, O BRASIL JOGANDO SUA SORTE

Enquanto isso, em uma transmissão radiofônica há 50 anos…
- Apita o árbitro! Começa a peleja! O Brasil começa a atacar pela esquerda, mais uma vez… Temos jogado muito assim pro meu gosto! Sem muita organização, recua um pouca a bola e reinicia o jogo. Lá vem o Brasil de novo ao ataque! Bola da intermediária lançada na ponta esquerda se perde pela linha lateral! Muito forte o lançamento. O time está um tanto afobado, Aníbal!
- Lacerda, é preciso um pouco mais de comando do lado de fora. As ideias são boas. Tem como dar jogo. Mas é preciso tocar melhor a bola na intermediária. Ler melhor o jogo. Não dar tanto espaço para o contragolpe. Principalmente pela direita.
- Aliás, se permite o aparte, meu caro comentarista do povo, não só pela direita! Tem muito contragolpe também pelo centro. É por ali que as coisas realmente se definem. Os cabeças estão todos por ali!
- Desde os cabeças de área quanto muitos cabeças de bagres, meu caro Lacerda… O time precisa se ligar. Estar mais esperto para não se perder em alguma desatenção. Não pode sair feito louco ao ataque. Tem de negociar melhor a posse de bola na meiúca.
- A torcida se manifesta ruidosamente pelo Brasil. Mas não em uníssono. Muita gente quer mudar o comandante. A escalação do time também. Acho que estão corretos!
- Até mesmo o jeito de jogar. Não sei se é uma boa…
- Eu estou conjecturando que é melhor fechar a nossa retaguarda. Agora estamos levando muitos ataques pela esquerda. Acho que essa turma se aproveita de nossos meninos e os assedia com facilidade. Onde já se viu?
- Honestamente, acho que você está vendo forças ocultas onde não existem. Nosso time está mesmo desorganizado. Nosso comandante parece perdido. Meio frouxo. Mas não me parece hora de mudar. Talvez algumas peças. Alguns nomes. Mas ainda é o melhor jogo o que estamos jogando. Pode não ser o ideal. Mas é melhor tentar sair por todos os lados para frente do que fechar todo o time na defesa. Sem liberdade de movimentação e expressão.
- Eu não sei, não. Me parece que medidas radicais precisam ser tomadas. Este não é um Brasil que vai pra frente!
- Estamos há meia hora discutindo o que fazer com o Brasil porque o jogo foi parado inexplicavelmente. Agora parece que estamos entendendo o que aconteceu… Estão tirando do banco o nosso treinador? É isso? Mas no meio do jogo? Nem acabou a partida? Como é que pode isso? Onde vamos parar!?
- Entendo que as autoridades fizeram muito bem em restabelecer a ordem, o equilíbrio e a instituição canarinha. Nossa pátria não pode estar em jogo e ficar à mercê dos títeres internacionais!
- Mas assim não vale! Não pode. Como é que faz um negócio desse? O time não estava jogando mal. E não podemos jogar na vala comum e pelo esgoto o que o Brasil estava fazendo! Mal começou a partida. Isso é um risco muito grande! Desse jeito vamos acab
(Ruído forte e estranho interrompe a transmissão. Apenas o locutor volta ao ar. O comentarista está fora dela. Problemas técnicos são alegados. )
- Voltamos enfim. O jogo recomeça com mais ordem e disciplina. Lá vem o Brasiiiil! Sinto uma equipe mais aguerrida. Determinada. Mais pujante. Lá vem o time rival pela esquerda e… Isso mesmo! É assim que se faz! Nosso lateral-direito dá um retumbante pontapé no extremo-esquerdo oponente. Nas costas dele! O árbitro não viu e nada marcou. É assim que se joga! Vamos lá, Brasil! Eu te amo, meu Brasil! Meu coração é verde, amarelo, azul e anil! Combinação ainda mais linda com este gramado verde-oliva! Ninguém segura esse ataque brasileiro! Pra cima deles, Brasil! Vamos acabar com a oposição rival! Pra frente, Brasil!

A INTOLERÂNCIA PREVALECE!

Continuo impressionado com a estupidez humana, que parece não ter limite. Falta de educação, preconceitos, bairrismos, homofobia, agressividade, comentários e ataques que muitos fazem via redes sociais escondidos sob um suposto anonimato chamam a atenção. O mesmo suposto anonimato que muitos devem sentir no meio da multidão em grandes jogos de futebol, quando viram valentões. Enfim, segue abaixo o texto:
"Fico impressionado com o nível dos comentários em blogs, especialmente os de esporte, mas também os de política, já que ambos se misturam e envolvem paixões e fortes interesses, clubísticos ou partidários. Estupidez, falta de educação e intolerância prevalecem no cenário.
Pego como exemplo o caso do Bom Senso F.C., movimento de jogadores com propostas para mudar nosso futebol e que levantou duas importantes bandeiras, de reformulação do calendário nacional e implantação do fair play financeiro, ambas absolutamente legítimas. Uma parcela dos torcedores ficou irada com o grupo e extravasou sua irritação ou ódio mesmo nas redes sociais, hostilizando o movimento e alguns de seus líderes, especialmente o zagueiro Paulo André, que acabou saindo do Corinthians para se refugiar, não consigo encontrar outro termo, no futebol chinês.
Muitos dos comentários seguem na linha de que o atleta tem que se preocupar apenas em jogar bola, render bem em campo e justificar o salário que ganha, não discutir calendário ou fair play financeiro, que seriam da alçada dos cartolas. Como se esses estivessem interessados em mudar alguma coisa…
Não foram poucos os que passaram a xingar os jogadores, dizendo que ganham muito, não têm que usar transporte público, defendem apenas seus interesses, querem gozar de mais férias e ter maior pré-temporada e que não passam de uns privilegiados com uma agenda própria, como se houvesse algum problema nisso. Os insultos são inacreditáveis, inviabilizando inclusive a possibilidade de diálogo.
Continuo dizendo que se ganham bem, isso é ótimo pra eles. A questão é discutir se os clubes que aceitam pagar salários milionários, gastando fortunas com sua folha de pagamentos, inclusive para comissões técnicas com “professores” que fazem mais do mesmo, têm condições de banca-los. São os dirigentes, não os jogadores, que devem ser cobrados sobre a questão financeira. Basta ver o caso do Botafogo, cujos atletas têm feito protestos contra o atraso no pagamento de salários e passaram a ser chamados de mercenários por parte da galera depois da derrota de um mês atrás, pela Copa Libertadores.
É uma pena que a ira da torcida acabe dirigida para os atletas, como se fossem responsáveis por todas as mazelas de nosso futebol, quando não são. Quantas vezes Paulo André, enquanto esteve no Brasil e antes de sair de foco partindo para a Ásia, não foi questionado sobre assuntos que não eram de sua alçada nem da do Bom Senso? Foi o caso do imbróglio que marcou o final do Brasileiro do ano passado, com brigas de torcidas e definição do rebaixamento no tapetão. Queriam que ele se posicionasse a respeito e tomasse partido de A ou de B, quando não eram o zagueiro nem o movimento que deviam explicações, mas a CBF, como organizadora do campeonato, e os clubes, boa parte dos quais tem relação umbilical com suas organizadas, várias delas envoltas em casos policiais.
Atrás dos ataques vejo, além de intolerância e agressividade, grande inveja contra os que se dão bem nos gramados. Como se fosse errado faturar jogando bola. Vida de boleiro também é complicada…”