O ARMANI DOS BOTÕES

Tem Flamengo amarelo, rosa, da época do Zico. Eram onze da noite quando o artesão, mestre dos botões, Adriano Moutinho entrou em casa, em Jacarepaguá, zona oeste da capital fluminense. Cumprimentou mulher e filhos e correu, apressado, para o escritório - uma saleta de 3 por 3 metros. A parede estava apinhada de medalhas ganhas em competições de futebol de mesa. O armário guardava os troféus dos Campeonatos Estaduais Interclubes (de mesa). E recostada à parede, repousava metade de uma mesa de futebol. É nela que Moutinho testa suas criações.

Aos 50 e tantos anos, Adriano Moutinho é especialista em fabricar times de futebol de botão (ou de mesa, como é chamado por uma dissidência mais ortodoxa). Recebe em média mais de 25 encomendas por mês, que entrega mediante pagamento de alguns reais por time. "Faço as peças. E crio o estilo também", conta. O serviço é sazonal, e costuma se intensificar em épocas de campeonato. "Todo botonista é meticuloso. Gasta o que for preciso para ter um time bonito", relata Moutinho, que chegou a acumular alguns mil reais em meses de vacas gordas. "Tem gente de outros estados que me encomenda estas artes."

Há alguns anos atrás, Moutinho vendia seus times em uma loja, chamada Oficina do Botão, onde expunha seu trabalho. Seu processo de criação funciona da seguinte forma: primeiro, o cliente escolhe um time - que pode ser nacional, como o XV de Piracicaba; ou estrangeiro, como o Manchester United. Em seguida, Moutinho cria o estilo, parecendo com a camisa do time escolhido (seja tradicional ou comemorativa) e faz as peças, em acrílico e/ou madre-pérola.

Em um ano fabricando botão, ele calcula produzir mais de 1.000 times. Seu catálogo conta com os diversos clubes do Brasil e do mundo, como Olympique de Marseille (França), Borussia Dortmund (Alemanha), Fenerbachçe (Turquia), Flamengo, Vasco, Atlético-MG, além das Seleções dos países. Normalmente a clientela pede que a arte se assemelhe ao uniforme do time. Quando cria para consumo próprio (ele tem vários times em casa), Moutinho foge à regra, algumas vezes.

O futebol de mesa foi criado nos idos dos anos 30 pelo campinense Geraldo Décourt, o Charles Miller do esporte, que jogava com os botões das próprias calças. Após a edição do primeiro livro de regras da modalidade, feito pelo próprio Décourt, o futebol de mesa se espalhou pelo Brasil. Hoje, é jogado do Chile ao Japão, passando pela Hungria, onde foi realizado o Mundial de 2009.

Nos primórdios, os botões eram feitos de peças de roupa, casca de coco e tampa de relógio. Na década de 1970, quando a brincadeira se popularizou, as peças passaram a ser produzidas por marcas de brinquedos, em plástico, e já vinham com os símbolos dos clubes. Hoje, botonista que se preza só joga com peça de acrílico (um conjunto de treze peças - dez na linha, duas na reserva e uma no gol - chega a custar 190 reais). A Confederação Brasileira de Futebol de Mesa se encarrega de organizar o calendário anual da modalidade (o Campeonato Brasileiro foi disputado em junho, no Rio de Janeiro). Durante o ano, Moutinho representa Associação Atlética Portuguesa, da Ilha do Governador, no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro Interclubes.

Moutinho não trabalha apenas com times que existem. Ele conta já ter feito equipes de bairro e, no começo do ano, para um cliente um escrete com personagens de filmes de terror. Era Hannibal Lecter e Freddy Kruger na zaga, Jason no meio-campo e Chuck no ataque. Frankenstein e Conde Drácula já haviam pendurado as chuteiras naquela época.