Romualdo Arppi Filho, segundo árbitro brasileiro a apitar em uma decisão de Copa do Mundo, tinha uma maneira particular de dirigir jogos quando se aproximavam do final. Especialmente os que estavam empatados. “Em jogo zero a zero, comigo, a partir dos 30 minutos do segundo tempo, só valia golaço”, costuma dizer. O que significa que, para mudar o placar àquela altura, um jogador teria de fazer uma pintura de gol, pois o jogo seria conduzido pela arbitragem de forma a não correr risco.
Risco de quê? De um gol irregular, decisivo, no fim. De ser responsabilizado pelo resultado. Árbitros têm pavor desse peso, incômodo que perdura por dias e prejudica carreiras. “É para evitar esse tipo de coisa que árbitros oram, acendem velas, ajoelham-se no vestiário”, conta um ex-árbitro brasileiro que tratava os minutos finais de suas atuações como um piloto de Fórmula 1 na última volta de uma corrida.
Máximo cuidado, nada pode dar errado.
Para ele, não há erro mais grave do que o cometido pelo trio de arbitragem na decisão do Campeonato Carioca. “Não tem explicação ou defesa, e o jogo não tem salvação”, diz. Nem o jogo e nem o campeonato, decidido por um gol em impedimento, nos acréscimos do segundo
tempo - fim da história.
A FIFA avalia arbitragens com notas de zero a dez. Determina que, se houver interferência no placar, o árbitro – ou assistente – não pode receber nota superior a sete. O mesmo critério é adotado pela Conmebol e pela CBF. É por isso que há árbitros que “gostam” de marcar pênaltis para o time que está vencendo. O jogo se resolve e ninguém reclama.
Também é por isso que, em partidas que se encaminham para decisões por pênaltis, árbitros apressados soam o apito final antes que os acréscimos se encerrem. Aconteceu no mesmo domingo, no Pacaembu, em Santos x Ituano. “Medida de segurança”, explica o ex-árbitro. “E se sai um gol de mão?”.