A punição ao Esportivo (SP), com a perda de cinco mandos de campo e multa de 30 mil reais por atos racistas de torcedores contra o árbitro, gerou certa decepção. Não compactuo dela. Achei até rigorosa. Qualquer uma eu acharia. Por um simples motivo: os atos nojentos de racismo não foram praticados pelo clube, como entidade, e nem pelo conjunto de seus torcedores. Logo, não vejo como legítimo nenhum castigo ao clube nessa situação. A ação foi praticada por um punhado de indivíduos que, supõem-se, torcem pelo time do interior gaúcho . Ao exigirmos a punição à agremiação estamos querendo pena pela pena, em busca de uma resposta, e rasgando qualquer lógica ou objetividade. Os cretinos que insultaram o árbitro, os agentes do crime, podem estar rindo à toa. Não se sabe se estão agora mordendo a própria carne de ódio porque o time terá que sediar cinco jogos longe de casa (as reações são individuais). Mas o fato é que devem estar aliviados por saírem, eles, os reais infratores, incólumes.
Na sanha por ver uma resposta a essa horrenda discriminação, estamos perdendo a mão. Na próxima segunda, o Mogi Mirim pode ser, na pena mais extrema, eliminado do Campeonato Paulista porque um energúmeno, que por acaso estava nas arquibancadas do estádio do clube, ofendeu o volante Arouca, do Santos. Todo o trabalho de jogadores, comissão técnica, diretoria, e a paixão de seus seguidores serão corrompidos para que se solte fumaça de alento? O ato de pessoas, cujo pedigree racista não pode ser identificado por um censor antirracismo, apenas pelas suas ações, poderá pegar em cheio no coração do clube. O todo pagando pela parte. Uma parte que age a seu bel-prazer, por sua consciência, em atitudes que não podem ser previstas, comandadas, articuladas por outros. Os fãs da equipe do interior serão amordaçados como cúmplices? Qual o cabimento disso? Dar exemplo às custas de inocentes?
Curioso que apenas no futebol estamos nessa sede por justiça a qualquer preço. Se um sujeito praticar ato racista em um clube social o local será trancafiado? Os outros sócios serão privados de gozar do espaço do local porque um incauto animalizou-se? Ou o correto será expulsá-lo dos quadros ou a Justiça condená-lo por racismo. O exemplo pode estender-se a vários outros espaços. A questão é muito diferente da que concerne a torcidas organizadas, já que muitos clubes financiam esses agrupamentos e, assim, podem ser vistos como cúmplices deles.
A ineficiência do nosso aparato policial-jurídico, que não consegue prender e condenar os racistas que têm mostrado sua língua suja em estádios, está levando à busca por outras soluções. A solução, meus amigos, está mesmo no tal aparato. Ele precisa funcionar. O curioso é que os episódios recentes afetam clubes pequenos, minúsculos, e então facilmente pede-se a retirada deles das competições. Mas pergunto: e se fosse um Corinthians, Flamengo ou qualquer outro gigante da nossa bola? Iríamos rogar por eliminação deles e, de quebra, impor o flagelo a milhões para que estes inocentes paguem por um grupelho nazista?
Por enquanto, quem pratica racismo em estádios têm motivos para comemorar. Livram-se sem arranhões, nem cócegas.