O ÚLTIMO TREINO (Por Antonio Maria Della Torre)

Doutor Teixeira, médico excelente sem preconceito de cor ou crença,atendia pobres, ricos e todo doente que lhe viesse com qualquer doença. Amável e muito bom esposo, pai de duas saudáveis crianças, era esse o médico bondoso daquela cidade e toda vizinhança. Não cobrava aos pobres a consulta, recebendo bem a quem a seu consultório viesse: rico ou pobre, analfabeta ou culta, era querido por gente de toda espécie. Certa vez, estando de viagem a família, fica o bom médico só com o seu outro amor: BOTÕES DE JOGO! Uma verdadeira pilha. Treinava e treinava só, mas com ardor. Chutes a gol, toques e passes; jogadas e táticas queria aprimorar. Tinha do botonista muita classe; que bom era vê-lo jogar. Mas a caminho, numa estrada, enquanto o doutor se divertia, levada pela mãe, uma criança desenganada à casa do doutor se dirigia. Chegando à porta da moradia a mulher chamava e batia palmas. Doutor Teixeira, alheio a tudo, os botões polia e aos pequenos discos entregava-se com alma.
 

O bom médico absorto em sua diversão não escutava a mulher que à porta batiaao ponto de ter sangrado a mão! E, lá dentro, o remédio que ele tão bem conhecia. Meia hora depois ainda chamava a mulher aflita, e a criança que de febre queimava, fechando os olhos perdeu a vidadiante da família do médico que regressava. Trazido pela esposa, o doutor a cena via e ao constatar que a criança estava morta, confessou que salvá-la poderia se houvesse há dois minutos batido à porta. Ao saber que a mulher estivera tanto tempo ali na rua o médico caiu em prantos. Chorava... Chorava como se a criança fosse sua... E, a todos, causava espanto. Dirigiu-se à sala de treinamento. Pegando os botões, no lixo com ira os atirou e com triste e firme pensamento Doutor Teixeira NUNCA MAIS JOGOU!

 

O original deste poema me foi entregue pelo autor na década de 90. Não sei se inédito ou já publicado. Talvez tenha sido divulgado em algum boletim, jornal ou revista do Grêmio Recreativo Riachuelo, uma vez que o nome deste clube,frequentado por Della Torre, está anotado no início do poema.
 
(Em 12/06/2013)