REQUENTADO


Dunga voltou. O verbo deve ser lido em seu sentido literal, para o técnico e o que sua presença significa para a Seleção Brasileira. Um retorno ao passado que deveria ter permanecido onde estava. Uma involução, se é que isso era possível para um time que, há duas semanas, passou a maior vergonha de sua história.

A entrevista coletiva de anteontem apresentou o mesmo Dunga que deixou a CBF há quatro anos. Os mesmos conceitos mal formados, a mesma coerência equivocada, os mesmos argumentos confusos e a mesma visão turva do que a Seleção Brasileira deve ser. Sobre certos temas, como a Copa do Mundo que terminou há pouco, o técnico revelou um nível de desinformação assustador.
O problema de Dunga é o que o move: a ira que se apoderou dele em 1990, que se mostrou mais forte do que nunca com a Copa em suas mãos em 1994, que impede que ele compreenda por que o time de 1982 é lembrado com mais saudade do que o que foi campeão nos Estados Unidos. Que faz com que toda pergunta seja ouvida como provocação e toda crítica, interpretada como perseguição.
Mas há problemas mais graves. Em pleno pós 1 x 7, a Seleção foi entregue ao técnico que declarou que a nostalgia do futebol atraente era um complô idealizado pelos europeus, para que o Brasil continuasse perdendo. Imagine a duração das gargalhadas de espanhóis e alemães ao ouvirem tal preciosidade.
O futebol ordinário exibido pelo Brasil de Scolari no Mundial em casa só tem um atenuante: o pouco tempo de trabalho, cerca de um ano e meio. Times que jogam demandam longa maturação, como tudo o que é bom em qualquer área. Times que só sabem lutar e correr – o equivalente futebolístico do fast-food – ficam prontos mais rápido.
Com Dunga, apesar do prazo generoso, o máximo que se pode esperar é um macarrão instantâneo. Um clone do time de 2010. Muito menos do que a Seleção Brasileira tem obrigação de ser, mesmo que ganhe a Copa de 2018.
EQUÍVOCOS… => 
É terrível a confusão de conceitos. A Seleção Brasileira não precisa ganhar a qualquer custo ou ser um time que transpire sangue. Esse é o caminho dos que não têm nada mais a oferecer. O que o Brasil tem de fazer é jogar futebol coletivo, com superioridade técnica, criatividade e coragem. Contamos nos dedos os países que podem sonhar este sonho.

… E MAIS EQUÍVOCOS => 
Defensores ardorosos do futebol de resultados ignoram que, em toda as competições, alguém sempre vence. Que se vencer é só o que interessa, nada resta quando o vencedor é outro. E que perder tentando exibir sua melhor versão é triste, mas perder usando um disfarce horroroso para esconder sua verdadeira identidade é muito pior. A maior vergonha está aí.