O presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, representa à perfeição a classe dirigente dos clubes do futebol brasileiro. Ele é o rosto, o cérebro e os membros do tipo de executivo que toma decisões em nome de instituições centenárias onde está de passagem, personificando a falta de capacidade, vergonha e escrúpulos.
Esse gênero de dirigente é responsável pelo estado de penúria dos nossos clubes, por ações e omissões que caracterizam gestões prejudiciais do ponto de vista interno e também no aspecto do comportamento coletivo que os clubes deveriam assumir em prol da valorização e da governança do produto que possuem.
No Botafogo, Assumpção tomou medidas que não protegem os melhores interesses da coletividade, vendeu uma falsa ideia de saúde financeira, tentou se associar a parceiros dos quais deveria manter distância. Junto com seus pares nos grandes do Rio, em 2011, sabotou o que poderia ser um avanço na comercialização dos direitos de televisão do Campeonato Brasileiro utilizando um discurso individualista. Hoje, com as receitas bloqueadas, Assumpção tenta sequestrar o governo federal com a ameaça de retirar o Botafogo do Campeonato Brasileiro por não conseguir honrar compromissos. Que esperto.
O debate sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte é um momento crucial para o futebol no país. O governo terá obrigatoriamente de escolher um lado no cabo de guerra que opõe jogadores e dirigentes. Se a presidente Dilma Rousseff aprovar o projeto de lei como é hoje, perdoará os cartolas ao lhes oferecer um salvo-conduto para continuar agindo da mesma maneira. Cartolas como Maurício Assumpção, que não coram diante da desfaçatez que sugerem.
Neste aspecto, é alarmante o comportamento do secretário de futebol do Ministério do Esporte, Toninho Nascimento, que pareceu à vontade para fazer o jogo da cartolagem ao dizer, na última sexta-feira, que o governo “tem pressa. Esperamos aprovar a lei até setembro porque tem clubes que não chegam até fim do ano se a lei não sair”. É o tipo de demagogia que se espera ouvir de alguém como Assumpção, não de um jornalista experiente que deveria saber com o que, e com quem, está lidando.
Os cartolas querem que o governo – e você – acredite que os clubes precisam ser salvos do inferno. No processo, dívidas que são fruto da mais pura irresponsabilidade serão refinanciadas. A julgar pela declaração de Nascimento, o secretário já foi convencido.
O governo não deve ter pressa alguma. A presidente Dilma Rousseff também recebeu os representantes do Bom Senso Futebol Clube e ouviu deles que não aprove o projeto de lei sem a devida discussão. Os avanços no futebol brasileiro estarão em perigo se a cartolagem for agraciada com mais um socorro da União, disfarçado de resgate dos clubes. É preciso ser muito ignorante, ou muito mal intencionado, para acreditar nesse embuste.
Quanto a Maurício Assumpção, que ele honre o que diz e tire o Botafogo do Campeonato Brasileiro. Vejamos se a ameaça passa de fanfarronice de quem perdeu qualquer constrangimento.
NOTA DO BLOG: Por iniciativa do secretário de futebol do Ministério do Esporte, Toninho Nascimento, ele quis esclarecer que sua declaração sobre “a pressa” em aprovar o projeto se deu pelo fato de o ministério estar trabalhando nisso há um ano e meio. Nascimento concorda que a questão deve ser discutida com a sociedade, e aguardava, ontem à tarde, uma correspondência do Bom Senso Futebol Clube com sugestões. O secretário não vê com bons olhos o “radicalismo” (termo usado pelo próprio) que tem caracterizado a discussão, opondo dirigentes e jogadores. Nascimento entende que é possível chegar a um texto que contemple as principais – não todas – necessidades de todos, incluindo CBF e governo. A reforma que o futebol brasileiro urgentemente necessita depende de um gesto firme do governo quanto ao modo como nossos clubes são administrados.
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Repetindo o que escrevemos aqui: os clubes devem mais de 5 bilhões de reais à União, que pode se considerar proprietária de todos eles. Não há nenhuma razão para que o governo se impressione com o discurso hipócrita dos cartolas. Ao contrário, é preciso falar alto com quem sonega e aproveitar a oportunidade para transformar o futebol brasileiro. O ministro do esporte, Aldo Rebelo, tem falhado gloriosamente nesta tarefa.