LINHA EVOLUTIVA

Ver jogar um time como o Celta deve ser um suplício para quem crê que o futebol coletivo, técnico e ofensivo é uma quimera que só está ao alcance das equipes recheadas de craques. Sérgio Álvarez, Hugo Mallo, Sergi Gómez, Cabral, Jonny, Augusto, Radoja (Pablo Hernández), Wass, Orellana, Aspas (Guidetti) e Nolito. Não se sinta mal se todos forem estranhos, se sua memória só for capaz de recuperar a passagem de Aspas pelo Liverpool, ou uma vaga lembrança da habilidade e da inteligência de Nolito.
Pois esses foram os jogadores que ontem impuseram ao atual campeão espanhol – com todos os titulares disponíveis – uma indiscutível derrota por 4 x 1. Esqueça o placar, a forma importa mais. Quando se pensa em similares à ideia de futebol que o Barcelona patenteou, a pesquisa se restringe a outras grandes equipes europeias. O time de Vigo talvez tenha causado espanto por marcar os catalães em seu campo, discutir a posse com seu proprietário e atacar sem medo. Nas palavras do jornal El País, o Celta tem o orçamento de um time modesto e o jogo de um grande.
Os índices do primeiro tempo (2x0) exibem a realização das intenções de uma equipe que acredita que as doses certas de conhecimento, prática e ambição podem levar a um tipo de futebol que os conformados consideram inatingível. O Celta ficou com a bola por 48% do tempo e somou nove finalizações ao gol do Barcelona. A vitória parcial fez com que, após o intervalo, o time exercesse uma pressão um pouco mais baixa e acionasse o contragolpe, o que resultou em menos posse (43% ao final), mas produziu outros nove chutes e mais dois gols.
Times como o Celta (treinado pelo argentino Eduardo Berizzo, ex-zagueiro do Newell’s Old Boys, River Plate e seleção argentina) comprovam que o futebol está se transformando. Qualidade técnica e padrões de associação são conceitos de primeira necessidade, que não dependem só de dinheiro. Técnicos que se limitam a trabalhar “com o que têm” serão abandonados pela linha evolutiva do jogo.