Ele não foi tão mal na Seleção como amam detestá-lo os muitos críticos. Também não foi tão bem como adoram defendê-lo seus poucos defensores tão empedernidos quanto ele em campo e no banco.
Ele é mais do mesmo. Como é o vice que será presidente Marco Polo. Como é o presidente que será vice Marin. Dois que apreciam o estilo conservador de Dunga. Pátria de chuteiras e de coturnos. Guarda pretoriana canarinho. Escola militar de organização pétrea. Disciplina além da conta. Liberdade vigiada. Vigilância privada. Segurança máxima. Fervor a ferro e fogo.
Não gosto do estilo. Mas respeito o homem e o profissional. Não seria o meu treinador. Prefiro Tite. A bola desta vez. Muito mais que o Dunga que já virou em campo um jogo mais pesado da Copa de 1990 para a de 1994. Mas que não me parece o treinador pronto para o que precisamos. Ele pode resgatar algo que o grupo de Felipão havia resgatado até ser rasgado no Minerazen. Ele sabe botar mais Brasil na camisa.
Mas o mais importante é colocar mais futebol brasileiro nas chuteiras. Não acho que é o cara certo.
Não me parece o treinador ideal. E mesmo o meu “ideal” ainda está longe do necessário.
Até por falta de muitas coisas que o treinador da Seleção não pode resolver. E nem sabe como fazer.
Ao menos começou bem o papo de Dunga no comando da Seleção. Mandou bem na humildade do primeiro pronunciamento ao dizer que ele errou no trato com a imprensa, que ele focou muito no desempenho em campo e que, agora, será mais, digamos, aberto a diálogo. Ou não tão fechado num casulo, num feudo.
Foi bem. E espero que a imprensa também dê um crédito a ele a esse respeito. Até por que a imprensa não ganha jogo. Mas pode perdê-lo. Um ambiente ruim como foi criado de lado a lado não ajuda o Brasil. Dar-se bem com a imprensa não importa tanto, como bem soube a Itália de 1982, campeã do mundo em greve com toda a stampa italiana.
Dunga pareceu sereno, tranquilo, na escala Dunga de humor, que vai de Dilma a doutor Enéas.
Não se aprofundou em nada, também por que não foram levantadas bolas nessa direção a ele. Mas deixou claro que não fará milagres. Não venderá sonhos. Irá aprimorar o coletivo. Disse que aprendeu algumas coisas com a Copa (sobretudo com a Alemanha). Falou muito da “inteligência calcis” (apertando o SAP do português para o italiano), ops, inteligência futebolística. Algo que ele conversou muito com o amigo “Enrico” (Arrigo) Sacchi.
Elogiou bastante o trabalho sem bola dos alemães, a marcação mais recuada atrás da pelota de muitas equipes na Copa, o comprometimento do artilheiro Muller na marcação, e o comprometimento do goleador Klose em prol do coletivo, não para quebrar o recorde individual de Copas.
Embora tenha dito que a “única” equipe que atuou ofensivamente com três na frente foi o Chile – que não foi, era um 3-4-1-2, no mais das vezes. A Alemanha que tanto ele gostou jogou, sim, no 4-3-3, embora com o meia Ozil como o homem pela esquerda e, por vezes, Muller pela direita (quando Klose assumiu o comando de ataque).
Dunga enfatizou a questão coletiva – ótimo -, não gosta tanto de malabarismos com a bola – faz parte -, mas, de fato, não falou – e a ele não foi perguntado – como fará com o time.
De bom, mesmo, é que não vai adotar o estilo terra arrasada. Vai aproveitar o que houve de bom em 2014. E vai trabalhar também a curto e médio prazo. Não adianta escalar agora o time para o pontapé inicial na Rússia, em 2018. É tempo de fazer uma transição segura e gradual.
Dunga também cutucou a questão do equilíbrio emocional da Seleção. Veladamente, mas tocou no assunto que pode e deve ser melhor tratado. Mas não com defesas de teses definitivas.
Enfim, mais do mesmo de Dunga e de entrevistas coletivas.
Ao trabalho, meus velhos.
A realidade é dura. Mas Dunga parece não estar tão duro.
Dunga não merece tantas críticas.
Mas o Brasil não merece tantos Dungas.