A violência no futebol é um fator de afastamento do torcedor brasileiro dos estádios. Não o único, mas tampouco irrelevante. Do medo, subproduto de episódios de brutalidade dentro e fora dos praças esportivas, fez-se ausência. Quantos de vocês, cidadãos que quero crer pacíficos, arriscam levar filhos pequenos a clássicos estaduais, por exemplo? Neles habita muito do rastilho da pólvora. São os chamados jogos de alto risco. Na psiquê coletiva do amante do jogo está gravada a ideia de que há situações em que ir a uma partida é avizinhar-se da barbárie, é dar a cara a tapa, porrete, socos e outras agressões. Isso para não dizer que a própria vida pode estar em risco. Pode você estar passando desavisado por uma rua, com a camisa do seu time, e ser alvo de insultos, no mínimo. Daqui a pouco teremos advertência em placas, nos espaços públicos: “Cuidado! Não demonstre seu amor clubístico. Humanos bravos!” A selva tem sido a senhora do futebol. Os baderneiros, por enquanto, venceram.
O repórter Bruno Cassucci, do diário LANCE!, fez um desabafo sintomático em sua página no Twitter na última segunda: “Entro na net empolgado para saber do clássico e me atualizar antes do fim das férias e leio que mais um torcedor morreu. Triste e broxante”.
O desabafo do meu companheiro é um retrato doloroso do que nós, apaixonados por futebol, sentimos: Impotência! Tenha certeza, paciente leitor, do nó no estômago, do desolamento que é passar dias tendo que debruçar-se sobre notícias com feitio de caderno policial. Saem os gols, as jogadas, as análises táticas, os personagens folclóricos, as classificações e entra em cena o pequeno apocalipse nosso de cada dia. E sempre a martelar a velha pergunta: falimos como sociedade? A omissão do estado é uma instituição nossa?
Um repórter do jornal diário LANCE!, Rodrigo Vessoni, produziu ano passado uma valorosa série sobre a carnificina que ocorre fora do campo. Vidas e mais vidas dizimadas em conflitos de gangues que agem, sem legitimidade, em nome do jogo. Corações são calados com as palmas das mãos do ódio. E nós, fascinados pela magia do futebol, somos simbolicamente assassinados. Ter medo de ir a estádio é uma forma de morte, é quando o pavor priva o desfrute da paixão. Ao contrário do que dizem, não é sensação de violência. Os fatos estão aí, mostrando que ela é real e que o copo transbordou há bastante tempo.
Para não dizer que só falei da náusea, temos um lado que indica algum otimismo. A sociedade parece saturada. Torcedores comuns estão fartos dessa prisão que não deveria ser deles, mas justamente dos que a causam. Petição pedindo punições, Policia Civil investigando com rigor, denúncias pipocando… Boçais existem em qualquer canto. Só são contidos com punições efetivas. O combate firme da violência pode até não elevar nossa média de público para níveis alemães ou ingleses. Aposto, porém, que diminuirá a resistência de pais que querem levar seus filhos a clássicos e neles construir paixão.