QUEM ODEIA QUEM NO FUTEBOL

O futebol não vive sem o ódio. Não o ódio que gera violência, mas o ódio, digamos, racional. Lembre de três caras que você odeia no futebol? E clubes? Bom, para não ficar em cima do muro, vou dizer que odeio clube rico, metido a besta. Não gosto. Ponto.
Muita gente dá um risinho de prazer quando vê um rival cair de divisão ou um ídolo adversário ser estilhaçado por uma crise. Tem uma vertente, que é a dos que amam colecionar vexames rivais.
Mas pouca gente investe no assunto aqui no Brasil. Falar mal de outro time é assunto proibido. São poucas as incursões. Em 2010, ano do centenário corintiano, houve uma tentativa de zombar do alvinegro, sem tanta repercussão.
Lá fora, porém, a coisa não funciona dessa maneira. Pegue a Argentina. O Olé, o maior diário esportivo do país, lançou na década passada uma coleção de deslizes dos dois maiores clubes do país, Boca e River. Na Espanha, o torcedor barcelonista se esbaldou com “Barcelona y el Franquismo”, obra que expõe a proteção do regime do general Franco ao Real Madrid.
Nada, porém, supera “Rebels for the Cause”. O autor, Jon Spurling, torcedor do Arsenal, não tem medo de colocar o dedo nas feridas no clube. Acha que os Gunners só tem esse tamanho porque é um dos clubes mais odiados da Inglaterra. E mais odiado por uma série de fatores.
Vamos a eles. Os jogadores da equipe original, o Woolwich Arsenal, atuam mal. E eram maus perdedores – partiam para a porrada mesmo. O clube começou no sul de Londres e depois migrou para o norte, dividindo as atenções da região com os torcedores do Tottenham. O futebol apresentado entre os anos 60 e 80 estava entre os mais feios do mundo – é a época do chamado “Boring Arsenal”. Tem até uma piada sobre esse time no livro e no filme “Fever Pitch”. O pai leva o garoto para assistir a um jogo de futebol. O Arsenal marca primeiro. Aos 35min do segundo eles saem correndo do estádio. “Mas ainda tem dez minutos de jogo!”, queixa-se o menino. “Você ainda não entendeu o Arsenal”, diz o pai.
O futebol é muito mais divertido quando as verdades não são absolutas. É válido questionar, é válido não gostar. É válido também dar um risinho quando as coisas vão mal do outro lado. Ah, em tempo: o livro de Jon Spurling foi rejeitado pelos dirigentes do Arsenal.