MINISTÉRIO DE DILMA VOLTA A UNIR O BRASIL E ENVERGONHA A TODOS. INCLUSIVE NO ESPORTE.

"Teólogo, radialista, apresentador de TV e animador", segundo sua própria definição. Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus como bônus. Certamente não se tratou de critério técnico a escolha do nome de George Hilton para assumir o Ministério do Esporte.
Com atuação praticamente nula na área esportiva, o feito a dar maior visibilidade ao deputado federal do PRB até hoje ocorreu em 2007, quando, então deputado estadual pelo PFL, acabou expulso do partido por ter sido flagrado pela Polícia Federal desembarcando em Belo Horizonte com 11 malas e caixas contendo cheques e maços de dinheiro com doações de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus.
Para que se conheça um pouco mais do perfil deste deputado que luta contra a "ideologia de gênero, esse conceito que acarretaria danos absurdos à instituição chamada família gerando permissividade sexual", recomendo a visualização do vídeo abaixo:
[aviso: após a publicação deste post e o aumento considerável do número de visualizações do vídeo, a propaganda do PRB foi retirada do Youtube pelo usuário responsável pela publicação. Atitude que considero louvável por demonstrar, pelo menos, autocrítica] 
Não há muito mais para se dizer sobre Hilton. No segundo semestre de 2014, Dilma reuniu-se com jornalistas esportivos, líderes do Bom Senso FC e outros representantes da sociedade prometendo dar novos rumos à política esportiva brasileira. Sua primeira ação ligada ao esporte em seu novo mandato é de uma decepção enorme.
Ao olharmos para seu novo ministério em outras áreas, fica o consolo de que, pelo menos, não se trata de menosprezo ao esporte: a falta de critério técnico, o predomínio dos fatores políticos e a preferência por nomes (ou sobrenomes) envolvidos em escândalos deste ou de outros governos deu o tom às escolhas de Dilma.
Além disso, se muitos sustentavam que o Brasil havia saído rachado da eleição deste ano, a presidenta voltou a unir o país: tanto entre os que votaram nela como entre os que não votaram, é difícil achar alguém satisfeito com seu ministério.

A TV E OS ESTADUAIS


Finalmente parece que os Estaduais, a maioria sem graça, começam a incomodar as emissoras de TV, leia-se Globo e Bandeirantes, preocupadas com a audiência.Na Globo a discussão é sobre como vender ao público os Estaduais, especialmente na fase inicial, repleta de jogos sem interesse. Excetuando os clássicos, fica difícil chamar o telespectador, que estaria procurando outras alternativas de lazer em vez de ver meros amistosos na TV. Que nem de luxo são.
Assim como já fizera no ano passado, a Globo decidiu não mostrar nenhum jogo do Paulista no sábado de Carnaval, porque considerou que não havia partida que merecesse ser exibida. E seguiu sua programação normal. A Bandeirantes fez o mesmo. A expectativa era o clássico de ontem, entre Corinthians e São Paulo, que já monopolizava as atenções desde a semana passada. Clássico pela Libertadores, claro.
Na Globo já se debate se os Estaduais não ocupam um espaço exagerado no calendário, algo que o Bom Senso alertou e antes do movimento de jogadores a própria mídia vem alardeando há tempos. A presença dos grandes nos Estaduais deveria ser rediscutida, já que a preocupação mesmo é a Libertadores. E quem não participa dela acaba fazendo uma pré-temporada de luxo nos Estaduais. Nada mais que isso.
Ser campeão em SP ou no Rio agora não é a mesma coisa quando comparado há outras épocas, como nos anos 70 e 80. O futebol e o interesse do torcedor mudaram. Está mais globalizado e menos regionalizado. Não deveríamos repensar os Estaduais? Sim. E é bom que a própria Globo finalmente comece a se mexer em relação ao problema.
Antes que afirmem que ela pode deixar de os exibir ou comprar os direitos de transmiti-los, a resposta é não. Até porque, se eles não rendem muitos pontos à própria Globo, ela não gostaria de ver o produto na concorrência. Só por isso vale a pena ter os direitos. Mas a discussão, felizmente, está aí. E agora com quem paga a conta.

A FALTA E O JOGO

Foi Rogério Ceni, símbolo, rosto e voz do escudo tricolor, quem melhor analisou o erro de arbitragem no início da jogada do segundo gol do Corinthians (2 x 0 no São Paulo: Elias e Jádson).
Em uma entrevista longa e sóbria na zona mista de Itaquera, o capitão são-paulino chamou a atenção para o principal problema da falta não marcada de Emerson Sheik em Bruno: a discrepância de critérios. “Era uma falta fácil de marcar”, disse Rogério, em uma frase que carrega um pouco mais do que seu óbvio sentido.
Não era fácil apenas porque o empurrão por trás foi claro, mas, e principalmente, porque Ricardo Marques Ribeiro parou o jogo em lances semelhantes desde os primeiros movimentos do clássico.
O trabalho de arbitragem é uma conversa entre o homem de meias pretas e os jogadores. Um árbitro fala com seu apito, com suas expressões, com seus gestos e propriamente com palavras. Mas uma das maneiras mais eficientes de estabelecer essa comunicação é com as decisões que toma. São elas que evidenciam que tipo de mediação uma partida terá.
A identificação de faltas é o aspecto mais importante no “estilo” de um apitador. Por intermédio do que considera ou não uma infração, o árbitro informa aos jogadores até onde podem ir nas disputas de bola. Quanto mais consistente for o uso do critério escolhido, mais franca será a “conversa” em campo, e menos espaço haverá para incompreensões e reclamações.
A maior falha de Ricardo Marques Ribeiro não foi deixar de apitar a falta em Bruno, mas ter permitido o nascer de uma jogada de gol em um lance que ele havia caracterizado como falta até então.
Isto dito, quero voltar à entrevista de Rogério para salientar uma outra opinião com a qual concordo. Ceni foi exato quando disse que o São Paulo não pode reclamar por ter perdido um jogo em que o goleiro adversário foi um observador. O fato de alguém como ele, que possui uma notável capacidade de falar sobre uma partida – da qual participou – logo após seu término, não lembrar se seu time havia chutado uma vez sequer ao gol diz muito sobre o que o São Paulo não fez no clássico.
O número e o tipo de ocasiões criadas pelo Corinthians demonstram um encontro claramente desequilibrado a seu favor, lembrando – como também salientou o capitão são-paulino – que o jogo estava 1 x 0 quando o apito cometeu um erro importante.
A falha comprometeu a chance de uma reação do São Paulo? É uma pergunta válida e a resposta é sim. Outra pergunta que cabe: que chance era essa até o momento do segundo gol?
Como escrevo em minha coluna no Lance! desta quinta-feira, o Corinthians é hoje um time que tem uma ideia mais clara do que pretende e de como aplicá-la. A jogada do primeiro gol é um exemplo cristalino da diferença de estágio em relação ao São Paulo.
Está tudo ali: movimento ofensivo desde o campo de defesa; rápida circulação da bola (nada é mais importante) para se organizar e desorganizar o oponente; Danilo como armadilha para atrair um defensor e criar o espaço para o aparecimento de um homem de trás, Elias, servido pelo passe de Jádson.
Tite mencionou essa construção na terça-feira e os jogadores do São Paulo lembraram dela após o jogo. Um time executou o que se propôs, o outro não. O defeito de critério de Ricardo Marques Ribeiro tem pouquíssimo a ver com isso.

QUANDO O TAMANHO DA TORCIDA É DOCUMENTO!

O tamanho da torcida é documento no botequim, na praia entre caipirinhas, no escritório ou no churrasco em família. Quando sai uma pesquisa, o sujeito pode gabar-se de que seu clube tem mais fãs que o do vizinho, do primo de segundo grau, do cunhado ou do jornaleiro. O fato alimenta autoestima, dado que quantidade, volume, é um fetiche da modernidade. Mas a massa, a nação, significa o que além do status? Esse patrimônio não faz sentido por si só, precisa ser explorado. O apaixonado por um time – não custa lembrar que entre os milhões que se dizem torcedores de dada agremiação há parcela que são simpatizantes – precisa ser consumidor dele para que os ganhos sejam práticos. Se o sujeito contribui para a estatística de um clube, mas não para seus cofres, é um desperdício. Essa, ao menos, é a lógica óbvia do futebol imerso no mundo capitalista.
Parece, então, que os clubes brasileiros acordaram para o tal potencial inexplorado. Algo que gigantes europeus já fazem há um bocado de tempo enfim começa a entrar no receituário por aqui. Dois são os exemplos mais fortes: os programas de sócio-torcedor e os novos estádios. São duas árvores frondosas cuja raiz são os seguidores. As ações de fidelização, que rendem um agitado ranking de adesão – os palmeirenses comemoraram no fim de semana o posto de vice-líderes no quesito, só atrás do Inter –, injetam milhões nos cofres não só com a possibilidade de o aderente ter abatimento no preço dos ingressos como receber mimos que acarinham sua condição de apaixonado.
De certa forma, o torcedor passa a ser responsável direto por boa parte do sustento do clube e mantenedor de sua grandeza. O dinheiro dos direitos de transmissão na TV e patrocínio de camisa são obtidos, claro, em função do prestígio de um clube, de sua visibilidade, o que é diretamente proporcional a seu número de fãs. Porém, os novos passos têm vínculo mais direto, pois os recursos saem do bolso do fã para a conta do clube. Tanto os programas de sócio-torcedor quanto estádios com melhor estrutura propõem a relação direta com o público.
Essa realidade abraçou todos os grandes clubes do país, ainda que os modelos sejam adaptados. Os cariocas ficam à mercê do consórcio do Maracanã e não veem o mesmo horizonte de receita no tópico de estádio em comparação com o Trio de Ferro paulista, por exemplo. O Flamengo, dado seu explosivo potencial, consegue mandar jogos em outras localidades, como Manaus, e faturar com o fato de ter torcida expressiva em qualquer canto do mapa nacional. O Cruzeiro, que também tem que se dobrar às exigências dos controladores do Mineirão, conseguiu rechear seus bolsos com sócio-torcedor, programa apontado como principal responsável pelo sustento do time que conquistou o bicampeonato brasileiro.
O futebol local caminha para um inegável novo estágio, com o torcedor tendo papel ativo nas receitas. Diante disso não custa sonhar com o dia em que os clubes passem a não perder jogadores para países da periferia da bola.

FUTEBOL CRIANÇA

Alguém já disse que o futebol pertence às crianças. A frase traz consigo um dos mais belos enganos voluntários que se pode cometer. A indústria do esporte, cada vez mais parecida com todos os outros campos profissionais, afasta o jogo de quem, como os pequenos fãs, o vê com nobreza e lealdade. De fato, gostaríamos que o futebol fosse puro e merecesse a devoção pueril, mas sabemos que não é assim.
Este jogo é tão especial, porém, que nos autoriza a infantilidades em nome dos sentimentos que carregamos desde os primeiros contatos. Um fenômeno que não enxerga fronteiras e não tem obstáculos a seu potencial de contagio. Dois exemplos dessa realidade foram observados nos últimos dias na Europa, região do mundo onde o futebol é tratado da maneira mais séria e profissional (o que não significa, trolls, que não haja equívocos e defeitos, ok?).
O primeiro foi o anúncio de que Steven Gerrard deixará o Liverpool ao final da temporada em curso. A notícia foi recebida e repercutida na Inglaterra com um notável caráter de pesar, como se representasse uma tragédia. Análises da trajetória do meia nos campos foram escritas com referências quase póstumas, depoimentos foram colhidos como homenagens, perguntas foram formuladas com a sugestão de que o mundo não seria mais o mesmo. Em um dado momento, parecia que Gerrard havia morrido. Ou que sua carreira tinha se encerrado de forma repentina. Felizmente, ele apenas decidiu jogar em outro lugar.
Steven Gerrard é um excelente futebolista, de história rara e admirável. É uma das poucas pessoas que podem dizer que se apaixonaram por uma camisa, a vestiram com classe e orgulho, dedicaram-se a ela por longos anos e com ela foram felizes. Não se discute sua importância ou seu lugar no altar emocional dos torcedores do Liverpool. A questão é a necessidade que o futebol nos impõe de tratar certas ocasiões como uma espécie de eulógia. Gerrard tomou uma decisão profissional, certamente difícil, mas baseada em sua idade (34 anos) e nas condições atuais de suas habilidades como jogador. Seu caminho continuará e é possível até que ele volte a jogar no clube pelo qual torce.
O outro exemplo foi a volta de Fernando Torres ao Atlético de Madrid, oito anos depois de deixar o clube onde nasceu para o futebol, pelo qual disputou mais partidas e marcou mais gols. A torcida do Atlético o recepcionou como o filho que ele verdadeiramente é, com cerca de 45 mil pessoas presentes, ontem, ao estádio Vicente Calderón. Um ambiente semelhante ao que se vê na chegada de um astro no auge da forma, quando na verdade quem estava ali era a lembrança de um jogador que sumiu.
Faz seis anos que Torres não é capaz de jogar um futebol que se aproxime do que fez dele um ídolo em Madri. Seu retorno tem todas as características das oportunidades que se apresentam a um esportista em declínio, acompanhadas do lembrete, em letras miúdas, de que não haverá outra. É uma contratação sentimental, cujo sucesso está amparado na possibilidade – igualmente sentimental – de um ressurgimento estimulado pela geografia.
Em ambos os casos, a objetividade ficou à margem. O futebol de Gerrard não morreu e o de Torres não ressuscitará. Mas o jogo nos compele a chorar e sorrir, a vivenciar luto e euforia imaginários, como fazem as crianças. Talvez o futebol realmente pertença a elas.

OS BONS, OS RUINS E OS MILIONÁRIOS

Há algum tempo, em um grande clube do futebol brasileiro, um jogador renomado chegou embriagado para treinar. Não trançava as pernas ou enrolava a língua, mas estava visivelmente sem condições de participar do trabalho. O técnico do time o viu no vestiário, conversando com os companheiros em um tom que evidenciava seu estado, e decidiu intervir. 
Chamou o jogador e disse que seria melhor que ele ficasse dentro do departamento de futebol, fazendo o sempre conveniente “reforço muscular”. 
Dois dias depois – sim, apenas dois dias – o fato se repetiu.
O treinamento estava marcado para o período da tarde, e o jogador em questão explicaria que foi almoçar com amigos e tomou “uns vinhos a mais”. Mas o técnico não foi capaz de conter o estrago, pois só percebeu a situação quando os atletas já estavam no campo, em uma animada roda de bobinho. 
Cinegrafistas, fotógrafos e repórteres já tinham notado a presença de todos, e, mesmo que não tivessem visto nada anormal, não seria inteligente abordar um jogador e retirá-lo do treino. Chamaria ainda mais atenção.
A solução foi permitir que ele treinasse por cerca de vinte minutos e devolvê-lo à academia, com discrição. 
A repercussão negativa externa foi evitada, mas no instante em que o treino começou com a participação de um jogador embriagado, o técnico sabia que tinha um gigantesco problema interno para resolver.
O resultado do primeiro jogo após os eventos da semana apenas lhe confirmou a suspeita: derrota para um time infinitamente inferior, com uma atuação horrenda e expressões resignadas no vestiário.
Na reapresentação, o treinador pediu uma reunião apenas entre ele e os jogadores. Assumiu que havia cometido um erro grave ao permitir que um jogador sem condições treinasse naquele dia, garantiu que algo assim não aconteceria de novo e perguntou se o grupo estava disposto a colocar o episódio no passado. 
O jogador em questão pediu a palavra e se desculpou com os colegas. O time passou a vencer partidas em sequência.
Engana-se quem imagina que um time de futebol funciona como um quartel ou uma sala de aula. É um organismo político, em que a hierarquia não é mais importante do que a necessidade de administrar pessoas, construir alianças, entender como lidar com cada ator de um espetáculo em que não existem papéis iguais. 
Como diz Pep Guardiola, “nem todos os jogadores devem receber o mesmo tratamento, mas o mesmo respeito”. 
Um outro técnico costuma dizer que, em termos de impacto para o bom ambiente de trabalho, existem três tipos de jogadores no futebol brasileiro: os bons, os ruins e os milionários.
Bons e ruins são auto-explicativos. Os milionários – que geralmente fazem jus ao termo pelo nome e o currículo que têm – precisam ser tratados com astúcia, pois são personalidades híbridas que podem pender para um ou outro lado conforme o estado de ânimo.
O técnico quer o milionário a seu lado, pois ele é crucial para o resultado do qual todos se alimentam. Isso não significa ser submisso ou perder o controle, mas não é um trabalho simples, como observamos sempre que um técnico e uma estrela se desentendem.
O jogador embriagado do caso acima se enquadrava no perfil do milionário. As regras para ele são as mesmas, apenas esticam mais: menos carga de treino, mais compreensão com “problemas particulares”, mais flexibilidade de horários, etc. 
Sempre foi assim, e sempre será, com jogadores que merecem esse status e o sustentam com desempenho.
 Nenhum volante menos dotado tecnicamente jamais reclamará de “correr o dobro” para que o craque a seu lado possa se dedicar a criar ocasiões de gol. É exatamente neste ponto que eles se diferenciam. 
Mas tomar “uns vinhos a mais” em um almoço com amigos, e depois treinar normalmente, é algo que todos gostariam de fazer. A linha se traça aí.
O mesmo vale para ambientes em que todos são “milionários”, como nos maiores clubes do futebol mundial. Neles, a distinção de poder no vestiário se dá da mesma maneira: os gênios “mandam”. 
E não há sequer um gênio – no futebol ou em outro esporte coletivo – que não se comporte como um tirano em seu reino. Os exemplos de convivência e problemas de relacionamento com companheiros, técnicos e dirigentes, são conhecidos.
Nos anos oitenta, Michael Jordan certa vez se recusou a entrar em um avião de volta para Chicago, após uma derrota dos Bulls em uma noite de Natal. 
O time jogou muito mal diante de uma audiência nacional, perdeu para um oponente que não deveria ter a mínima chance, o que irritou seu técnico (Doug Collins, à época) de tal maneira que a folga no dia seguinte foi revogada e um treino marcado.
Os jogadores receberam a notícia logo após o jogo, como uma reprimenda pelo desempenho ruim. Ficaram furiosos, pois já tinham feito planos de almoçar com suas famílias no dia 25, em diferentes partes do país. 
Nenhum deles gostaria de ir para Chicago, mas todos estavam no aeroporto na manhã seguinte. Menos Jordan.
Em conversa telefônica com o gerente-geral do Chicago Bulls, MJ disse que não cederia a um capricho vingativo de Collins. Seu plano era passar o Natal na casa de sua mãe, não em um treino que só foi marcado para punir os jogadores.  
O executivo pediu que Jordan reconsiderasse e fosse ao aeroporto, só ele não estava lá e essa era uma situação inaceitável. Negativo.
Então, com a habilidade que caracteriza os melhores gestores de egos, o chefe do chefe de Michael Jordan lhe propôs uma solução: o treino seria cancelado se ele se apresentasse no aeroporto. Ninguém seria obrigado a entrar no avião para Chicago. O acordo deveria ficar entre eles, sem comentários que prejudicassem a autoridade de Collins.
Jordan respondeu que não ficaria no aeroporto por mais de cinco minutos, e assim fez. O treino foi cancelado.
Mas seus companheiros notaram que ele usava um mocassim, sem meias. Quem teria coragem de desembarcar em Chicago, no fim de dezembro, sem meias?
O conflito entre Lionel Messi e o técnico Luis Enrique não é diferente de tantos outros. O técnico não sabe lidar com o gênio. Messi é um tirano como os gênios que vieram antes dele, talvez seja mais tímido ou mais generoso, o que pode fazer diferença para sua imagem exterior mas não altera absolutamente nada em termos de dinâmica interna. 
Se Messi realmente disse que o Barcelona terá de escolher entre ele e Luis Enrique, a conversa terminou. 
Se não disse, o técnico terá de mudar rapidamente de comportamento.
E não se trata de um jogador que pensa que “é maior do que o clube”, um argumento que não tem sentido. 
Problemas surgem entre pessoas e são resolvidos por pessoas. Não há um representante das próprias vontades diante de um representante “da instituição”. E se houvesse, quem representa melhor a instituição do que o jogador que leva o público ao estádio e o clube a conquistas?
Messi já faltou a treinos – alegando a mesma gastroenterite que usou como desculpa na segunda-feira – quando o Barcelona era dirigido por Pep Guardiola, o técnico que melhor o compreendeu. O motivo foi o mesmo: ter sido poupado de um jogo.
E Guardiola era visto como o treinador que soube conquistar Messi com a estratégia de comunicação correta e gestos como a autorização para que ele disputasse os Jogos Olímpicos de Pequim.
Política, no bom sentido.
Luis Enrique chegou ao Barcelona anunciando-se “o líder do time”, e não se preocupou em estabelecer sequer uma linha de troca de ideias com Messi, o milionário, o gênio. 
Não parece uma postura produtiva.
No último capítulo do formidável “Herr Pep”, livro que detalha o primeiro ano de Guardiola no Bayern de Munique, o jornalista catalão Martí Perarnau relata uma conversa que teve com o treinador, ao final da última temporada. 
O encontro aconteceu no escritório de Guardiola, na sede do clube alemão. 
Na parede, Perarnau notou uma frase escrita na lousa: “Praticamente a totalidade dos problemas de uma equipe são por culpa dos egos”. 
Cada um precisa controlar o seu.

EURICO VAI AO ATAQUE

Eurico Miranda quer rediscutir o futebol brasileiro e atacar o que chama de privilégios a Flamengo e Corinthians.
O presidente do Vasco, que tem força na Federação do Estado do Rio, acha que Flamengo e Fluminense, ao defenderem preços mais caros para o Estadual e não os populares, querem elitizar ainda mais o futebol carioca. Acha que a federação deveria colocar os preços lá pra baixo mesmo para encher os estádios e permitir que mais torcida possa comparecer ao estádio, algo de que eu, particularmente, discordo.
Como bem apontou o Fluminense, usando da ironia em nota oficial, a Federação do Rio não é gabaritada e está longe de realizar um dos melhores campeonatos do Brasil. O Estadual não atrai o interesse do torcedor e, assim como os de outros Estados, deveria ser repensado. Especialmente a presença dos grandes teria que ser reduzida. Do jeito que está o produto está fadado ao fracasso.
Além da questão dos ingressos, Eurico quer rever as negociações dos direitos de TV. Não acha que as futuras devam privilegiar Corinthians e Flamengo, os clubes mais populares do Brasil, que ganham mais do que os demais. Defende negociações conjuntas e não mais individuais e alerta para o risco de o futebol brasileiro virar o espanhol, que, salvo raríssimas exceções, costuma ter apenas dois times brigando pela ponta, Barcelona e Real Madrid.
O polêmico dirigente também ataca o Bom Senso F.C., movimento dos jogadores de futebol que ele chama de os “mauricinhos da bola”. Acha que querem jogar menos e só estão preocupados com o próprio bolsa. Questiona as fontes de financiamento do grupo e diz que cada um tem uma agenda própria. Acha que Paulo André, que gosta de aparecer como líder do Bom Senso, usa-o para iniciar uma plataforma política e conseguir espaço em jornais para sua futura carreira de cartola, o que o jogador nega.
Eurico afirma ainda que há outros no movimento que se apresentam como membros do grupo e nem são jogadores e que o usam apenas para ganhar um lugarzinho na mídia e alavancar suas carreiras (ou tentar alavanca-las).
Sobre as fontes de financiamento do grupo, que Eurico questiona, já perguntei no último mês ao Bom Senso em três oportunidades e confesso que não recebi resposta alguma. Nem de Paulo André. O que não quer dizer que a agenda do Bom Senso esteja errada, muito pelo contrário, e que não haja ótimas lideranças, como o goleiro Dida, um dos que mais trabalharam pelo grupo e na surdina, como é bem seu estilo.