Os últimos dias serviram para que conhecêssemos um novo Dunga. Novo no sentido de ser diferente do que pensávamos conhecer. Por intermédio de reportagens do Espn.com.br e da Folha de S.Paulo, fomos apresentados a um Dunga ativo nos negócios do futebol, que lucra com transferências de jogadores, que movimenta cifras no exterior, que se utiliza de empresas off-shore, que é cobrado pela Receita Federal brasileira.
Mas o próprio Dunga nega a existência desse intermediário revelado pelas histórias publicadas com fartura de detalhes e documentos. O recém-empossado técnico da Seleção Brasileira desmente seu papel como agente em um dos casos e, no outro, considera-se perseguido (um padrão de comportamento?) pela Receita. Em ambos, tornou-se público um traço da personalidade do treinador: a generosidade.
De acordo com a Folha, há indícios de que Dunga não pagou impostos sobre uma quantia movimentada fora do Brasil em 2002. A Receita Federal suspeita que operações financeiras fantasmas foram utilizadas para justificar um depósito de 270 mil dólares, não declarado, feito pelo Jubilo Iwata em uma conta de Dunga. O técnico alega que se trata do pagamento, em espécie, de um empréstimo concedido por ele ao clube japonês.
Na reportagem do site da ESPN também consta um empréstimo feito pelo atual técnico da Seleção. A história desnuda a participação de Dunga na transferência de 75% dos direitos econômicos do meia Ederson, do RS Futebol Clube para a empresa Image Promotion Company (IPC), em 2004. Documentos atestam uma comissão de pouco mais de 400 mil reais. Dois anos mais tarde, o IPC adquiriu os 25% restantes em uma operação de 575 mil dólares na qual Dunga aparece como autor do crédito para os representantes do RS Futebol Clube. Segundo Dunga, a quantia foi emprestada por ele ao IPC.
Desde que tudo seja feito em concordância com as leis, não há nada de errado na atuação de Dunga como intermediário em negociações de jogadores (ou como socorro financeiro a clubes de futebol e empresas que representam atletas) durante o período anterior a seu primeiro trabalho como técnico da Seleção Brasileira, quando estreou na profissão. Mas Dunga sempre declarou manter-se afastado dos tentadores negócios do futebol, aparentemente para sustentar uma postura ética que, agora, está em xeque.
Porque além de agir em desacordo com o que disse, Dunga tenta discutir com os documentos que comprovam seu envolvimento na transferência dos direitos de Ederson, uma atitude intrigante diante da clareza das evidências. Por que a relutância em admitir algo que se deu quando ele ainda não era técnico?
O pós-Copa da CBF continua a nos surpreender, como essas produções de baixo orçamento que se superam em bizarrices a cada cena. Podemos ter um ex-agente como técnico da Seleção, chefiado por um ex-agente como coordenador, chefiado por figuras que explicam tudo. E a sensação é de que estamos no começo do filme.
ATUALIZAÇÃO – Dunga publicou um esclarecimento em seu site. O advogado do técnico da Seleção Brasileira diz que ele nunca trabalhou como “agente, procurador ou empresário de jogador de futebol”. Mas admite que Dunga participou do negócio envolvendo o meia. De acordo com a explicação, Dunga apenas aproximou as partes que fizeram a negociação, e por isso recebeu a comissão.
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