As cadeiras quebradas na Arena Corinthians protagonizam a tragicomédia da semana no futebol brasileiro. Os humoristas do STJD denunciaram o dono do estádio e o Palmeiras pelos atos de vandalismo que geraram uma conta de R$ 45 mil para Paulo Nobre pagar, conforme acordo entre os clubes. O que significa que quando o Corinthians for ao Allianz Parque, as gentilezas serão retribuídas com imbecilidade e transferência interbancária semelhantes.
Enquanto dirigentes trocam cadeiras quebradas e o tribunal revisita o ridículo que o caracteriza, pouco se pensa em atacar o problema que é um, apenas um, dos aspectos do dilema que se apresenta ao futebol no país. O setor destinado à torcida visitante é tratado – pelo mandante – como uma latrina coletiva, quando deveria ser o contrário. Falta criatividade para procurar soluções ousadas como, por exemplo, decorar a área com as cores do adversário. Ou, algo ainda mais corajoso, estampar fotos dos ídolos do rival nas cadeiras. Um palmeirense seria capaz de dar um chute no rosto de São Marcos?
Não ria, pois iniciativas parecidas já foram testadas na Europa, com sucesso. Em certos estádios ingleses, onde é permitido vender bebidas alcoólicas, o torcedor visitante é recebido com a cerveja que bebe em sua cidade e acomodado em um setor em que o distintivo de seu clube está em todos os lados. O nível de violência cai. Em qualquer lugar, o comportamento de animal raivoso (para o qual só tiro de tranquilizante e jaula são remédios) esconde um idiota imaturo que, talvez, possa ser contido com boas ideias e um ambiente em que se sinta respeitado e constrangido. Mas para chegarmos a isso é necessário superar tolices ligadas à rivalidade. É preciso crescer.
Aumentar a ocupação dos estádios brasileiros deveria ser a prioridade número um de todos os envolvidos. Uma prioridade que já existia antes da Copa do Mundo, mas que agora é mais urgente porque temos quatorze (os doze do Mundial, mais Grêmio e, em breve, Palmeiras) casas top de linha à disposição. Uma verdadeira revolução em termos estruturais. A obrigação de utilizar o máximo desse potencial é estratégica, pois ele pode representar a diferença de orçamento que permitirá que os clubes, um dia, tomem as rédeas do futebol no Brasil.
Mas essa não é uma missão exclusiva dos clubes, que, frise-se, estão na Idade da Pedra neste campo. Os gestores das arenas e o poder público também têm papel fundamental na experiência que precisa ser oferecida a quem vai a esses estádios, independentemente da política de preços de ingressos e da visão de cada um do que é ir a um jogo de futebol. Os novos estádios são como são porque proporcionam mais, portanto precisam entregar mais a quem está interessado. É um equívoco confundir esse conceito com elitização. Trata-se de inclusão, não o contrário.
Escrevemos neste espaço, antes da Copa, que um momento decisivo chegaria quando os estádios fossem entregues ao uso doméstico. Ou adaptaríamos nossa maneira de ver futebol a eles, ou eles seriam adaptados à nossa maneira de ver futebol. Permitir o segundo cenário é jogar no lixo uma oportunidade que não aparecerá de novo.
CONVITE =>
Acostumamo-nos a entender a experiência de ir ao futebol como algo restrito ao estádio. Está errado. Ir e vir também são problemas do clube/gestor porque as preocupações de acesso e saída contaminam o programa. Ninguém vai ao cinema preocupado, ou chega irritado. Além do conteúdo oferecido, é preciso dar ao torcedor motivos para ir ao estádio. E para querer voltar.
UM DIA? =>
Exemplo distante: os administradores de um estádio holandês distribuem panfletos para os restaurantes e redes de fast-food que têm unidades nas diferentes rotas para o local. Informam os horários de abertura e fechamento dos portões em dias de jogos, quantas pessoas são esperadas, etc, para que os estabelecimentos se preparem para atender o público. O que os gestores do estádio ganham com isso? A certeza de que, quando chegarem para ver o jogo, as pessoas estarão tranquilas.
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