Nos tempos do julgamento espontâneo, da tribuna das redes sociais, sentenças são proferidas em escala industrial. Todo mundo escreve, um punhado de gente lê, outro punhado compartilha, ou retuita, e assim temos muitas vezes a “viralização” de mentiras, meias verdades, precipitações. Esse é o mundo contemporâneo, mais virtual que real, com fartura de informação e desinformação também. Há pouca reflexão e muita conclusão. O bolo do Campeonato Brasileiro ganhou tanto fermento que essa confeitaria online fez vilões e heróis a rodo.
Claro, dirão alguns (possivelmente muitos), com carradas de razão: debatemos e isso é bom, temos a democracia. E as ideias são trocadas diante do que temos pela frente. Assim que o STJD condenou a Portuguesa houve os que defendessem a medida como respeito à lei. Outros, entre os quais me incluo, pensaram no espírito da lei, na busca da justiça acima da letra gelada. Os pontos tirados tinham amparo legal, mas seria justo rebaixar o clube por infração em um jogo que para ele nada valia e beneficiar outro que caira no campo? Então os dois lados entraram num pé de guerra verbal que produziu, na escala contemporânea de estigmatização, um vilão: o Fluminense. O clube, que por circunstâncias apareceu em anos recentes em polêmicas de tapetão, passava a ser um agente do mal, quando não era. Ao menos pelo que sabemos até agora. Essa síndrome de perseguição já vinha no tolo lema do “pagar a Série B”. Na história do futebol brasileiro houve tanta mudança de regra que haveria uma fila de pagamento de dívidas morais infinita.
Uma parcela dos que então defendiam a justiça prevalecendo sobre a lei apegou-se em um aspecto jurídico: o Estatuto do Torcedor, que em um artigo fala em publicidade das decisões, algo que não foi feito. De repente, a questão – ressalto, para alguns – não era mais moral, era legal. Os que eram contra a letra fria da lei passaram a ser favoráveis a ela. Lei Federal está acima de um código esportivo! Mas o encontro dessa infração serve ao ideal da justiça no caso ou apenas a defesa casuística de um dos lados, tornando o debate pobre?
Agora começam a surgir indícios, e já há inquérito, de que gente da Portuguesa sabia da irregularidade de Héverton e não passou a informação para quem de direito, supostamente com dolo. A vilania do Fluminense arrefeceu diante da possibilidade de a corrupção ter sido o vírus desse imbróglio. Os rótulos mudaram, e a Portuguesa nem é mais vista como imaculada.
Os fatos que se sucederam foram debelando juízos e formatando outros. As manifestações, legítimas, de torcedores da Portuguesa na Avenida Paulista e em frente ao STJD em dezembro teriam razão de ser agora? O novo presidente do clube enaltece o promotor que conduz investigação sobre a conduta de gente do Lusa e diz desconfiar de funcionários. E agora? O que vamos dizer em redes sociais e no asfalto? De que moralidade e direitos trataremos? O nó está cada vez mais górdio e canja de galinha não fará mal a ninguém por ora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário